O Polêmico Tema do ENEM
A natureza deu tanto poder à mulher que a lei,
por prudência, deu-lhes pouco.
Samuel Johnson
por prudência, deu-lhes pouco.
Samuel Johnson
O tema do ENEM é a violência contra a mulher e a galera evoluída faz a maior festa, por acreditar que, ao se obrigar a meninada a dissertar sobre essa excrescência de nossa sociedade, está se plantando uma semente para sua eliminação.
Eu também comemorei, com moderação, apesar da vergonha alheia ao me deparar com comentários jubilosos sobre a reprovação iminente dos “machistinhas de plantão”. Quem dera! A revisão das redações deve ater-se à correção ortográfica e gramatical e à capacidade do candidato em apresentar seu ponto de vista, defendendo-o com argumentos consistentes e lógicos. Não cabe julgamento sobre a opinião do autor, mesmo que, aos olhos do revisor, apresente-se completamente inadequada. Ou seja, ninguém é reprovado por defender que a mulher que se veste de modo provocante merece ser atacada ou agredida ou, ainda, que não se deveria dar tanta evidência ao combate às mais variadas formas de subjugar, humilhar, maltratar, diminuir uma mulher.
Aliás, foi isso o que fizeram os nobres deputados Bolsonaro e Feliciano, que consideraram o tema da redação e a citação de uma frase feminista de Simone de Beauvoir em uma das questões objetivas como doutrinação marxista.
Fazer o quê? Bolsonaro defende que “mulher que trabalha fora destrói a família”, ou que o “empresário tem todo o direito de pagar menos às mulheres porque elas engravidam”. E mais: por suas convicções religiosas - e dane-se o laicismo do Estado -, os dois declaram publicamente sua homofobia, incitando mais crime de ódio no País.
É! Não há tema de redação do MEC que dê jeito quando esses dois boçais têm votos e seguidores, esquecidos de que a maioria das religiões prega o amor, a não violência, a caridade.
Taí! O MEC foi mais cristão do que os ilustres representantes da bancada evangélica no Congresso, quando abordou esse assunto.
O foco foi a mulher, mas, quando se propõe uma análise à falta de respeito à condição feminina, se abrem as cabeças para algo muito mais abrangente: o respeito à pessoa. Todas! Negros, pobres, idosos, crianças, gays e até as pessoas não humanas...
É uma semente. Felizmente, nem todo terreno é árido.
Texto publicado em minha coluna de hoje no jornal Alô Brasília.