"SAMPA FILMES" APRESENTA: O DIA DOS MORTOS EM VIDA

Rodando a tela pelos nossos cemitérios,

Com devidos créditos da cena de fundo à memória do Thriller de Michael Jackson.

Logo mais, daqui a exatos três dias, comemoraremos mais um “ dia dos finados”, que dizem também ser precedido pelo dia de "todos os santos", uma data especial para relembrarmos e homenagearmos, em atos e orações a modo de cada um, os nossos queridos “mortos” que vivem para sempre dentro de nós.

Eu aqui confesso que não aprecio cemitérios porque eles não me dizem absolutamente nada e peço licença para explanar um sentimento de que atualmente são apenas pequenas grandes empresas que exploram a morte em vida e a fé de que, abaixo das pedras e das cinzas, possa existir uma história que continua na terra.

Dia desses, argumentando com familiares idosos diante duma distância enorme de oitocentos quilômetros que terei que percorrer, mais vinte e duas praças de pedágio, em nome e homenagem de alguém muito querido mas que já não está mais aqui e que possivelmente poderá estar em qualquer lugar da espiritualidade pós a morte da matéria, aonde não há pedágios dos homens para se acessar uma vida mais digna, entendi que culturalmente é inútil a tentativa de passar nossas impressões de alma àqueles que acreditam que haja corpo presente atrás dum mausoléu.

Entender que espiritualidade e oração transcendem tempo e espaços de forma instantânea é algo que pertence apenas à impressão individual de cada ser em transformação pelo seu tempo, tudo de formas totalmente distintas e havemos de respeitar as crenças e impressões pessoais de todos os seres.

Mas, obviamente que participo dos rituais “do coração” em homenagem aos que se foram, não sei para aonde, principalmente porque as grandes homenagens que lhes fazemos não são audíveis aos ouvidos distraídos do mundo muito menos tangíveis às especulações da matéria tão efêmera.

E o que me traz aqui é a vida:é a vida das cidades mortas que fazem história.

E mais precisamente: ouvi numa matéria jornalística que Sampa pretende, num ato “Cult” de civilização de vanguarda, dentre tantos outros duvidosos que hoje ocorrem por aqui, quebrar as barreiras dos muros e dos mundos dos cemitérios urbanos para integralizarmos a vida dos mortos à mortificação moribunda da cidade.

Uma alquimia encantadora...de se amalgamar vidas e mortes em patamares tão distintos da existência misteriosa.

Pobres dos mortos! Os dos cemitérios.

Bem, não quero ser chata, todavia confesso que, ultimamente, na minha condição de SER duvidosamente VIVO, ando me beliscando para me constatar cinestesicamente viva, tenho uma capacidade imensa para a chatice.

Não estou preocupada com as opiniões do entorno, só peço desculpas.

Ando é preocupada com a cidade na qual nasci e que hoje pouco me representa em essência de nela existir.

É que posicionamentos incomodam e também já aprendi que Democracia por aqui é via de sentido único da falta total de senso do bom senso.

O que me preocupa? A vida dos mortos do cemitério em contato com a vida da morte urbana.

A total deterioração da cidade de todos e para todos os lados.

A explicação hilariante e POPULISTA por parte de quem “gere”, para esse ato de civilização de vanguarda anunciado próximo ao dias dos mortos, é a de que nossos cemitérios "CULTS" guardam “obras de arte” que contam a HISTÓRIA e que, como DIREITO, a população precisa desse contato cultural com o belo dos mortos. Ahã...bonito, quem vai dizer que não?

Foco meu sentimento: paradoxo dos mais insensatos que ouvi atualmente.

Patrimônio cultural da cidade? Ok.

Senhores e caros gestores do caos travestido de eficiência cult: deem só uma olhadinha, ainda que de soslaio, no nosso patrimônio histórico da cidade, não nos mausoléus da morte de ALGUNS dos cemitérios “ da elite”, como gostam de nos dividir por aí, mas dos meros mortais povo da “vida crucis”, posto que os cemitérios públicos estão literalmente às larvas.

Olhem a morte em vida sim!- nos equipamentos do nosso patrimônio cultural que trazem à perplexa visitação turística os cidadãos do mundo.

Deem só uma “visitadinha un passant” pela MORTE DA CIDADE, pelo centro antigo, olhem as igrejas tradicionais, as calçadas dos entorno, parques, os monumentos como o de Victor Brecheret que virou "play ground comunitário e democrático", os asfaltos, a Praça Patriarca, a da República, o Largo de São Francisco, a zona cerealista e imediações, o MERCADO MUNICIPAL, centro "food do mundo" que está desabando. Tenho medo de ingerir qualquer coisa ali. Querem fotos?

Naquelas imediações se encena a morte viva, zumbindo em seres perdidos do cenário, todos os dias, conseqüência dos vários atos maquiados disso do que se chama "teatro das políticas públicas excelentes mas falidas" e que matam silenciosamente mais que guerras explícitas!

Cemitérios da morte do nosso patrimônio cultural e paisagístico expostos para o mundo todo ver! E lamentar. Querem fotos?

Transformamos alquimicamente misérias e abandonos em passeios “Cult”, o feio a bonito nos parecer e perecer, aonde a morte zomba da vida de todos, todos os dias dum tempo perdido, sem foco, sem obturadores abertos, sem perspectiva de futuro!Querem fotos?

Um exposto cemitério da degradação da consciência gestora culturalmente morta por aqui com o passar dos tempos assassinados pelos méritos “desconstrutivos” do todo de inépcia assustadora.

Mas estou sim, vivamente matéria cidadã e mais ainda, viva de senso e de sentimentos e lhes digo que falhamos muito-mas não enganamos mais!- quando tentamos encaixar conteúdos civilizatórios lá de fora no nosso cada vez mais hermético , castigado, explosivo e surreal cenário urbano morto de São Paulo cidade.

Não adianta grafitar paredes, ruas, calçadas, ciclovias com desenvolvimento humanísitco fictício.

Estamos coletiva e maquiadamente mortos, inclusive de medo!

Querem abrir os muros dos cemitérios de Sampa numa atitude democrática ao desfrute artístico? Que lindo! Fotografem para a posteridade!

Ressuscitem primeiramente a cidade dos vivos para recepcionarmos os mortos com dignidade!

Senão por aqui correremos o “mico” de vermos uma manifestação só da "elite golpista dos mortos", a dos cemitérios cults sampistas, em plena Paulista morta, a reivindicar O DIREITO LEGÍTIMO de conservar seu patrimônio artístico e histórico, depois de se fugir da morte da cidade e da sua “surrealidade impressionista”, de tristes e de mentirosas impressões, nem que seja para a vida bem mais sossegada da morte que habita os mausoléus, inclusive os inadministráveis pelo tempo.

Porque na nossa desigualdade social crescente pela “era das igualdades fictícias” até para ser morto tem que se ressuscitar a contento pelas mortíferas insanidade e hipocrisia dos vivos.

Rezemos ao menos pela consciência de todos os santos vivos, aqueles do "pau-oco" promotores dos tantos cemitérios a céu aberto.

Ao menos sairia nas telas dos cinemas do mundo o ganho do OSCAR para o nosso melhor filme:

"A PASSEATA REIVINDICATÓRIA DOS MORTOS DA CONSOLAÇÃO PELA VIDA DECADENTE DA AVENIDA PAULISTA".

(semelhança com a realidade não terá sido só mero improviso)

Diante desta crônica mortandade, alguém aí já sabe "qual seria a parte que lhe cabe na tela desse latifúndio...morto de "urbanidade"?

Feliz dia dos mortos-vivos para todos NÓS, extensivos a todo o meu,o nosso, o seu... querido Brasil.