De Tanto Amor

Já contei alguns causos acontecidos em Pesqueira. Tudo verdade, não enfeitei o maracá. Há outros, doloridos mas também meio engraçados, e, além disso, "fantásticos". Não me surpreenderia e nem ficaria constrangido se alguém dissesse que se trata de mentira. Por um motivo muito simples: se eu estivesse no lugar dessa pessoa também não acreditaria que o causo fosse verídico.

O de hoje, mmais uma vez no clube dos bancários, no início, salvo engano, do ano de 70, diz respeito a uma desilusão amorosa de um amigo meu.

Esse amigo era o saudoso ator de teatro e cinema (trabalhou no filme Riacho de Sangue como o padre), Lenildo Martins, um cara do bem, educadíssimo e uma grande figura humana. Mas tinha um problema: sempre se apaixonava por quem não lhe correspondia ao seu amor. E certa feita apaixonou-se perdidamente por uma moça da cidade, uma paixão avassaladora, arriou-se os quatro pneus. Como ela não correspondia, ele começou a beber demais. Mas sempre elegante, mesmo bêbado.

Certo dia, no auge da paixão, era um sábado, ele foi logo de manhã a casa de discos da cidade e comprou um compactor simples (lembram-se desse disquinho?) de Claudete Soares que tinha a música "De Tanto Amor" ("Ah, eu vim aqui amor só pra me despedir...").

Quando o clube dos bancários abriu, às dez horas da manhã, ele entrou, era a hora que a turma chegava para tomar umas e outras e bater papo, degustando o famoso sarapatel. Lenildo pediu um litro de Montilla e uma coca e foi para uma mesinha que ficava junto da radiola, começou a beber e a ouvir a faixa do compactor "De Tanto Amor", sem falar com ninguém. Repetidamente, spó essa música. A gente compreendia que era roedeira e ficava apenas rindo. Às duas horas da tarde fomos embora, ficou aapenas o encarregado do bar e Lenildo ouvindo ininterruptamente a tal música.

Bem, voltei ao clube mais ou menos às oito da noite, junto com outros amigos, costumávamos ouvir o noticiário me parece da Tupi ou Manchete numa tevê em preto e branco que chuiviscava paca, as pessoas diziam brincando, "quando margeia não soneia e quando soneia nao margeia, e tomávamos claro uma cervejinha. Mas não pudemos assistir ao noticiário porque Lenildo continuava ouvindo na radiola a música "De Tanto Amor", já estava bêbado. Fui agé ele e me ofereci para levá-lo em casa. Não aceitou, xcontinuou ouvindo a música. Ficamos por ali até que mais ou menos às onze horas da noite, aconteceu um fato extraordinário: o compactor furou-se. Sim, de tanto Lenildo tocar a mesma faixa o disco deu defeito e furou-se. Ele então desligou a radiola, jogou o compactor no lixo, pagou a conta e foi saindo, ainda quis acompanhá-lo, ele declinou da ofeerta e me disse: - Acabou a paixão. Vou partir para outra. Dito e feito. Nunca mais procurou a moça. E nunca mais ouviu a música. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 30/10/2015
Código do texto: T5431969
Classificação de conteúdo: seguro