NO DIA EM QUE MINHA MÃE MORREU

NO DIA EM QUE MINHA MÃE MORREU

29/10/15

No dia em que minha mãe morreu era uma terça feira, fazem dois dias, o céu estava cinzento, vez por outra chorava lágrimas de uma saudável saudade ao se lembrar da alegria em que ela vivera suas mais de nove décadas de existência terrena. Alegria que sobrepujava suas tristezas, frustrações, desesperanças, ausências, carências, depressões e saudades.

No dia em que minha mãe morreu e para falar a verdade há meses antes disso ela vinha sendo visitada por seus entes queridos que tiveram sua missão terrena cumprida enquanto ela aqui caminhava. Um destes entes aquele com que ela pouco convivera, cerca de uma dúzia de anos apenas, a quem chamava Lulu, muito se fez presente em sua despedida. Ela a Lulu, irmã carnal, que tivera uma partida trágica, veio prepará-la para a nova vida. Muito a auxiliou no desapego e em aqui deixar o que tanto amava e foi mestra nesta tarefa, pois permitiu com que ela, minha mãe, partisse por vontade própria e dando-lhe o tempo necessário para que ela preparasse, dentro do que era possível, aos que aqui deixava a sua ausência.

No dia em que minha mãe morreu, ela recebeu vários presentes. Presentes pelas presenças em sua despedida e pelas provas de como era querida quer seja pelas lágrimas, pelos sorrisos, pelas lembranças, pelos cânticos, pelas orações, pelas mensagens ou pelos abraços e ombros dados a nós seus descendentes e seu companheiro eterno.

No dia em que minha mãe morreu, ela nos presenteou com reencontros queridos e ansiados. Reencontros não apenas físicos, mas reencontros de almas. No dia em que minha mãe morreu, ela nos presenteou com as manifestações de todos aqueles que nos eram próximos do coração e que fizeram amenizar a inevitável dor da sua ausência.

No dia em que minha mãe morreu, ela nos transmitiu a certeza de sua presença na continuidade de nossa caminhada nos intuindo na trilha dos verdes pastos, das águas tranquilas e das veredas da justa verdade.

No dia em que minha mãe morreu, ela assim o fez para conviver com aqueles por quem tinha uma já incontida saudade. No dia em que minha mãe partiu, ela aqui permaneceu por sua alegria e sua força gravada na mente e no coração.

Geraldo Cerqueira