CRISE BRASILEIRA

Sales não é só amigo de longas datas, mas também meu leitor assíduo. Diz ele que sempre fica aguardando a crônica da semana para deliciar-se junto com Dulce, sua mulher. Isto é um fato que muito me envaidece, mas que também me faz pesar mais nos ombros por tudo aquilo que ponho no papel. Neste final de semana, Sales me pediu algumas linhas sobre a crise brasileira, não deixando, porém, de expor sua opinião de que se trata de uma crise moral. E aqui estou a satisfazê-lo.

Em geral, quando se fala de crise, o fator que se sobressai é o econômico, por afetar a vida das pessoas e das empresas. Mas, as crises não são apenas econômicas, elas carregam elementos sociais, psicológicos, políticos e morais. Na análise crítica, contudo, há sempre uma tendência de reducionismo desses elementos a um só deles, na maioria das vezes, ao econômico. Na crise atual o fator reducionista é deveras o moral.

O projeto político que motiva o Partido dos Trabalhadores é a permanência no poder. Uma vez o tendo conquistado, dele não se poderá mais abrir mão. Ocorre, porém, que mantença perene no comando da nação é ditadura e, neste caso, ditadura do proletariado. Algo carcomido desde a queda do muro de Berlim e o desaparecimento da União Soviética. A aparência de democracia é engodo para os incautos, pois a democracia se efetiva com a alternância do poder, justo o que o PT não quer.

Para assegurar tal permanência, os desvios de dinheiro público com vistas às campanhas eleitorais foram privilegiados. Atos que por si só já são criminosos e antiéticos. O mensalão, o petrolão, o lava-jato e outros que, de certo, surgirão, conduziram a dinheirama desviada também para as cuecas e as contas nos paraísos fiscais dos seus autores. E com isto, a moral pública já combalida quedou-se inerte ao chão.

O Brasil está empobrecido em seus valores morais, pelo desprovimento da dimensão interior daqueles que são responsáveis pelo progresso e bem-estar social. A crise da economia é consequência. Sales tem razão, a crise brasileira é de natureza moral. Para superá-la é preciso reacender a esperança do primado da vergonha e da lei. Há que se produzir clamor público capaz de restabelecer a moralidade pública, para se voltar a ter orgulho de ser brasileiro.

Ailton Elisiario
Enviado por Ailton Elisiario em 29/10/2015
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