"Multigêneros". A vida...a morte; vidamorte;multi.....................................etc; entre outros!

A vida...a morte; vidamorte;multi.....................................etc; entre outros!

Quando a única certeza da existência me encontrar – a morte – não quero lembranças do que fui e o que poderia ser. O esquecimento deve permear e a memória de mim deve se apagar. Pobre é aquele que quer se tornar imortal nas lembranças e a partir da dor!

Aqueles que tiveram o des/prazer de me conhecer; esqueçam-me! Não valho, nem quero valer uma palavra de consolo. Sou e fui em vida; após, não interessa.

Não tenho medo da morte! Eis o único axioma!

As lágrimas em meu funeral devem ser engolidas à seco e o sorriso deve ser ensurdecedor. Comemorem a minha despedida e façam um carnaval. Se fui festa em vida; devo ser folia em morte!

Meus inimigos não sintam saudade! Sua vitória sempre foi minha vitória. Tolo é aquele que torce pelo fracasso e o revés daqueles que não sentam a sua mesa.

Distribuam meus bens entre aqueles que não procuraram consumir produtos com validade. Cada palavra que escrevi, cada discurso que vociferei, rasgue, apague... nada de mim deve continuar depois de mim – o mundo deve seguir sem minhas divagações. Fiz e pronto e ponto.

Em meu velório, conversem sobre problemas políticos e busquem uma intervenção para melhorar a situação. Discutam até religião, mas, jamais, determinem para onde vou.

Proibido rezar! Sempre fui contra à repetições e discursos decorados. Nem queira que eu vá acompanhado, pois sei me virar sozinho; mesmo depois da morte.

Evitem eufemismos!

Fez a passagem; vai para um bom lugar; partiu ....

Morri e pronto!

Meus amigos, por favor, não sintam a obrigação de segurar a alça do meu caixão. O peso de um corpo putrefato cansa quem ainda está saprofitando.

Cada amigo meu, que são poucos, pois não aperto qualquer mão, nem divido uma cerveja com qualquer um, saibam que não faço questão de suas lágrimas; guardem-na para a vida! Não permitem que cantem aquelas canções depressivas e chatas que nunca ouvi em vida e pro não ter como reagir, serei obrigado a ouvi-las. Convoquem os bêbados da cidade, os loucos, os desvalidos, os mutilados e cantem, em um só coro, todas as canções de Chico Buarque. E, por favor, sirvam-me um copo com cerveja; mesmo morto, darei um jeito de brindar e tomar.

Mulheres, não se engalfinhem por mim. Olhem e vejam o fim de um homem. Contentem-se com o que vai sobrar em vida. Mesmo depois de morto, continuo arrogante!

Jamais repitam: “ foi tão cedo”!

Quem são vocês para determinar a hora?

Eu, filho da vida e da morte

Cumpri todo o meu dever

Numa parca existência

Onde nascer é morrer

Fiz o que pude em vida

Sabendo que nada fica

Vou sem saudade de mim

tolo é quem complica

Se a vida me quis, a morte sempre me desejou. Determinado momento fui seduzido e uma correspondência dela, recebi. Poucos sabem ler nas entrelinhas de uma carta que é mandada cotidianamente.

Porto seguro, .... de ....................................... 20..

Senhor, Paternostro

Com muito gosto e apreço, vou busca-lo! É preciso que deixe a vida desarrumada e que ensine a desaprender a existência. Se sua missão foi essa – livre-arbítrio escrito – cumpriu! Caso não tenha consumado, também cumpriu!

Não precisa de bagagem; a própria roupa do corpo serve.

Dizer adeus é desnecessário. Aqueles que se despedem, querem choro; foram carentes e fracos em vida e precisam de se sentir maior na hora do fim. Você não carece disso!

Destrua todo o seu patrimônio – só servirá para liças futuras.

Doe sua biblioteca, quem sabe alguém lerá um livro; livros que você não leu – alimentou-se deles.

Pague antecipadamente seu funeral; não deixe para os outros essa incumbência.

Atenciosamente

A morte

Sem delongas, sempre deixei um bilhete na porta que liga a vida e a morte:

“Estou sempre esperando – gerúndio – e venha quando quiser!”

De acordo com os fatos mencionados acima, percebe-se que a vida é o prelúdio da morte e é preciso entendê-las, mostrar que a espera é começo e que, mais que o fim, o início deve ser objetivo. Dessa maneira, vidamorte será apenas um léxico.

A vida e a morte são pândegas, só o imbecil não consegue rir com as galhofas que elas fazem.

Eu brinco em vida e carnavalizo a morte! Meu rascunho é a vida e a versão definitiva é a morte. Gêneros textuais em um só gênero.

Poesia; crônica, carta; dissertativo-argumentativo; canções; conto...

Eu faço o que quero e penso que quero carnavalizar o que querem deixar fixo e estabelecer a ordem e a regra.

Se a minha morte incomodar, é porque há menos vida em vida!

Minha morte é só minha!

Pronto.

E tenho dito.

Mário Paternostro