A volta ao mundo com 80 pilas

Soaram seis horas quando Joaquim chegou em sua residência e suas roupas estavam sobre a cama, arrumadas e com a mala ao chão. O trabalho seria pegar as roupas e colocá-las de forma ordenada dentro da mala. Mas não era bem assim, haveria uma explicação para toda aquela questão? Por que Benê (pseudônimo de Benedita) havia deixado às roupas de Joaquim daquela forma? O primeiro sinal era o de que ele estava sendo dispensado, apartado de um caso amoroso que já durava dezessete anos. Eram casados, não utilizavam alianças, mas perante os olhos e o papel da Lei estavam rigorosamente em dia. O que fazer? O momento era de refletir e esperar a chegada da sua mulher, Benedita, que logo chegava do trabalho. Olhou para o relógio quando faltavam cinco minutos para às dezoito horas, era o hora dela adentrar a porta e com seu ar doce e faceiro cumprimentá-lo com carinho, como dois eternos enamorados. Naquele dia ela não fez isso, foi para o banheiro, lavou suas mãos e cabelos que fediam ao odor sórdido do cigarro e se dirigiu ao quarto. Ficou indignada com a mala e às roupas que ali repousavam como ela havia deixados. Joaquim perguntou, queria explicações para tamanha ação. Benedita foi clara e rápida: fez tudo em função dos papos que o marido batia com uma outra mulher pela internet, a mesma de todas as vezes. Diálogos quentes, de um léxico rico eroticamente. Traição jurou não tolerar, desde o momento que se uniram, e por isso o expulsara daquela forma da residência que ergueram juntos.

Não tinha mais o que falar, Joaquim admitiu as conversas, assinou as gravações e o vocabulário “pesado” para um homem casado. Tratou logo de pegar seus pertences e antes que o relógio avisasse uma hora após ter batido pela última vez, Joaquim rumou sem destino. Apenas oitenta pilas ( reais) era o que tinha num dos bolsos de sua calça. Sabia que ali não poderia mais voltar, pois sua esposa (agora ex) não o aceitaria mais, parecendo irredutível em sua decisão. Mas Joaquim não almejaria mais voltar, quereria aproveitar a vida que resolvera deixar para o amor doado à Benê. Agora era ser o rebelde juvenil que sempre sonhara. Partiria em sua odisséia no dia seguinte. As ruas seria sua morada. As fontes das praças públicas o lugar para se banhar. Papelões sua cama. Os cobertores doados, as roupas sujas era o que tinha. Tratou logo de usufruir dos 80 pilas que possuía. Conheceu a França. Foram alguns dias de barco, enjoado, vomitando pelo mar, curtindo ao frio emitido pelas brisas marítimas. E não gastou muito, apenas o suborno de dez pilas ao marujo que conheceu no cais do porto. Por lá, na Cidade das Luzes, passou a frenqüentar cafés, lugar onde intelectuais e pouco dinheiro reuniam-se. Deixou seus escritos com um editor brasileiro naturalizado francês. Declamou suas poesias em saraus. Foi aplaudido, mas muito vaiado. Banhou-se no Sena. Foi ao Louvre, mas preferiu a Torre Eifel. Num desses cafés conheceu uma inglesa, partiu para o país britânico cortejando a beberrona inglesa. Beberam tanto ao longo da viagem, paga pela inglesa, que foram desembarcados em uma praça na terra do príncipe Charles. Acordaram abraçados e sem roupas, observados pelos ingleses, que cortejavam ao verde, e pela polícia local. Levados a uma delegacia furtaram-se as explicações, pois a inglesa era rica e advogada. Pagaram algumas Libras (ela pagou) e logo seguiram para a casa de Jennifer. Lá pelas tantas, embriagados, rumaram para o quarto e na embriaguez doentia amaram-se feitos porcos, ou seja, cidadãos sem nenhum compromisso. Acordoram pela manhã com o Sol dando o seu sinal e na mais rápida atitude Joaquim tomou conta de suas roupas que se espalhavam pelo chão e partiu sem ser mandado para fora, pois não queria mais ser expulso pelas mulheres. Era livre e independente.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 27/06/2007
Código do texto: T542926
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