Apenas Uma Palavra: Amo-te

CRONICA DO COTIDIANO.

APENAS UMA PALAVRA: AMO-TE.

Gama gantois

Não resta a menor dúvida de que as pessoas são completamente diferentes umas das outras. Por exemplo: Uma grande parte declara seu amor por outrem com espantosa facilidade. Chegam mesmo a banalizar um sentimento tão nobre. Há outras, entretanto, que sentem enorme dificuldade em demonstrar o seu sentimento. São mais fechadas. Na verdade têm medo de abrir o seu coração, a sua alma. Não sabem que é exatamente a frase: ”eu te amo, que as pessoas querem ouvir do ente amado.

Alfredo, um homem bem sucedido na vida estava incluído na segunda categoria. Estava casado com Eugênia há 23 anos e nunca ao que se saiba tinha dito para esposa nem para outra pessoa essas mágicas palavras. Há pouco, por sugestão da própria companheira, decidiu sair com outra mulher. Há principio Alfredo ainda tentou resistir à idéia. Achava que não ficaria bem, um homem da sua posição social sair com outra mulher. O que os amigos poderiam pensar. Mas, Eugênia com aquela voz meiga e suave que só as mulheres sabem fazer quando querem convencer o homem, lhe disse pegando em suas mãos.

-Você sabe que a ama. E sabe também que é correspondido. A vida, meu bem é curta, e você deve dedicar um tempo especial a essa mulher

- Eu sei querida, respondeu Alfredo. Mas, o meu tempo disponível é muito curto. Você sabe que disponho de pouco tempo. Trabalho muito, e com franqueza o pouco tempo que me resta prefiro dedicar a você e aos nossos filhos.

- Mas, você também a ama, e você sabe disso. O que está lhe faltando é externar, esse sentimento. Abrir a sua alma. Demonstrar de forma inequívoca todo o seu amor. Você querido, é um homem muito fechado.

-Claro que eu a amo e ela sabe disto. Filha, meu sentimento por ela é tão claro que não vejo necessidade de estar a todo hora dizendo, eu te amo. Até porque em minha opinião o amor é uma coisa que tem que ser demonstrado, sentido. Além do mais eu hoje tenho uma família. Tenho nossos filhos e a prioridade da minha vida são vocês protestou Alfredo.

A outra mulher que Eugênia se referia era a sua sogra, mãe do seu marido. Eugenia queria que o esposo a visitasse, já que ela estava viúva há 20 anos e durante todo esse tempo por exigências profissionais, o filho quase nunca a visitou. A não ser em ocasiões excepcionais.

Seguindo o conselho da sua mulher, Alfredo convidou a sua mãe para que numa noite dessas saíssem juntos. Primeiro eles jantariam num restaurante bem acolhedor. Depois pegariam uma sessão de cinema.

-Ao receber o convite, para se encontrar com o filho, sua pobre mãe perguntou aflita a que estava acontecendo. Afinal, desde que se tornara adulto, mesmo quando solteiro, nunca recebera nenhum convite para sair com o filho. Portanto, na sua cabeça deveria estar acontecendo algo de terrível para ser anunciado. Ela é do tipo de pessoa que acredita que um convite desse teor, ou a chamada no meio - noite é indício de noticias ruim.

Alfredo a tranqüilizou lhe dizendo que seria agradável passar algum tempo em sua companhia. Afinal, há muito anos que não faziam um programa como esse. Só eles dois como se namorados fossem. Ela refletiu um pouco para finalmente dizer sorrindo que a idéia lhe agradava muitíssimo. Marcaram o tal encontro para dali a dois dias. No dia combinado, quando se dirigia para pegá-la, Alfredo notou estava um pouco nervoso. Era um nervosismo semelhante a aquele de um adolescente quando se encaminha para o primeiro encontro com a primeira namorada. E que coisa interessante; Alfredo notou que ela estava emocionada. Ela lhe esperava à porta da sua casa toda produzida. Vestia o seu casaco mais lindo. Seus sapatos e bolsas se via que foram comprados para aquela grande ocasião. Havia feito um penteado novo, que a remoçava em uns dez anos. Trajava o vestido com o qual celebrou seu último aniversário. Seu rosto sorria, irradiando luz. Ali não estava uma mulher, mas um anjo. E por acaso aquele anjo era a sua mãe. Estava deslumbrante. Demonstrando uma enorme felicidade disse que tinha falado para as amigas que iria sair com seu filho. Que este a convidara para um encontro. Disse mais. Disse que suas amigas ficaram morrendo de inveja dela. Afinal, não é todos os dias que um filho quarentão, casado, pai de três filhos, cheio de compromissos profissionais, larga tudo para sair com a sua velha mãe. Ainda com voz embargada pela emoção falou:

_ Filho amado. Você hoje está me proporcionando um dos dias mais felizes da minha vida. Muito obrigada, e que Deus o abençoe.

Alfredo disfarçadamente enxugou duas grossas lágrimas que rolavam pelo seu rosto. Chegou à conclusão de que já poderia ter feito um programa semelhante com sua mãe mais vezes. Quanto tempo havia perdido pensou.

Foram a um restaurante não muito elegante, mas, muito aconchegante. Percorreram o salão até a mesa que ele tinha reservado previamente de braços dados como se fossem dois amantes. Sua mãe se sentia como se fosse à primeira dama. Quando finalmente se acomodaram teve que ler para ela o cardápio, pois, seus olhos só enxergavam grandes figuras. Quando estava pela metade das entradas, levantou os olhos e percebeu que ela estava sentada no outro lado da mesa, e o olhava fixamente. Um sorriso nostálgico se delineava em seus lábios. Seus olhos umedecidos pelas lágrimas que teimosamente prendia, demonstrava um sentimento de enormes saudades.

Saudades de um tempo que ela sabia que se fora e que não voltaria jamais. Algumas lembranças tinham voltado ao seu coração. De repente embalada pela emoção disse:

- Era eu quem lia o menu quando você era pequeno, lembra?

-Então é hora de relaxar e de me permitir em devolver tanto amor.

Ambos estavam bastante emocionados Durante o jantar tiveram uma agradável conversa. Nada extraordinário. Cada um perguntou sobre a vida do outro, ambos falaram sobre seus projetos futuros. Naquela noite mãe e filho colocaram suas conversas em dia. Falaram tanto que perderam o horário do cinema.

De repente demonstrando uma enorme felicidade sua mãe disse:

-Sairei contigo outra vez, mas só se deixares que eu faça o convite e pague as despesas. Alfredo concordou com a sua mãe. Ficaria aguardando ansioso, o tal convite.

Queria repetir por muitas vezes aquela noite feliz. Quando chegou a sua casa, sua esposa estava lhe esperando. Queria saber como tinha sido aquela noite iluminada.

-Como foi o seu encontro perguntou ela?

- Muito agradável. Muito mais do que imaginei. Iremos repetir a dose outras vezes. Agora quero encontrar-me com minha mãe pelo uma vez por mês. Já ficamos muito tempo separados pela vida. Nunca pensei que a amasse tanto. Na próxima vez vou seguir o seu conselho. Vou dizer para ela com todas as letras: - Mãe eu te amo

- Isto, meu filho. Declare o seu amor para a sua mãe. Ela vai adorar.

-Eu o farei. Tenha certeza disto.

Algum tempo depois, Alfredo recebe a notícia do falecimento da sua mãe. Um infarto fulminante, a levou para eternidade. Foi um enfarto tão rápido que ninguém pôde fazer nada. Dias depois das exéquias Alfredo recebeu um envelope com a cópia de um cheque do restaurante onde havia jantado, junto com uma nota escrita do próprio punho pela sua mãe que dizia;

“-Meu filho. O jantar que teríamos mais adiante paguei antecipado. Estava quase certa de que poderia não estar presente. Por isso, paguei um jantar para você e para sua esposa. Você jamais poderá entender o que aquela noite significou para mim. Sinto que estou me despedindo da vida, por isso neste momento quero reafirmar o meu amor por você. Quero lhe dizer apenas uma palavra: Amo-te.

Nesse momento Alfredo compreendeu importância das palavras. De poder dizer para a pessoa amada: ”Te amo” dar aos nossos entes queridos o espaço que merecem nas nossas vidas: Nada é mais importante para as pessoas do que ouvir de quem se gosta a frase: eu te amo. Alfredo embora tenha demonstrado toda afeição, todo o carinho e o imenso amor por sua mãe, perdeu a grande oportunidade da sua vida para lhe dizer com todas as letras. Mãe! Eu te amo

Gama gantois
Enviado por Gama gantois em 26/10/2015
Código do texto: T5428087
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