Golias e a chupeta do Rafael
Quem foi o menino, piá, guri ou moleque que não se encantou com um certo Ronald Golias, o Bronco, da família Trapo, depois, com seus personagens sentados no banco de uma alegre praça? O humor sem malícia, a piada feita em cima do inusitado, o riso livre, a emoção da brincadeira de um homem que começou como “aqualouco”, fazendo suas palhaças de um trampolim, numa piscina na cidade de São Carlos.
Em 1979, quando fui participar de outro malogrado projeto de ressuscitar um velho jornal, o “Correio de São Carlos”, da então poderosa família Pereira Lopes – a dos tratores CBT e das geladeiras Clímax, em São Carlos, pude conhecer, mesmo que rapidamente, ao Ronaldo Golias. A lembrança do Golias, à porta de minha casa, dentro de seu carro, foi muito marcante para toda minha família, para meu filho Rafael, então com cerca de 3 anos.
O Golias tinha parentes e amigos em São Carlos e, rotineiramente, ia visitar uma família que morava na mesma quadra que eu. Minhas filhas, Séfora e Juliana, fizeram amizade com uma sobrinha do Golias e, numa noite disseram para o Golias que seu irmão, o Rafael, gostava muito dele e que queria conhece-lo, também. Foram até minha casa e, infelizmente, o Rafael já estava dormindo. Mas, mesmo assim, o Golias prometera que iria conhecer o Rafael. Na manhã seguinte, antes de retornar para São Paulo, Golias pegou o seu carro e foi a porta de minha casa, chamando-nos. Eu, Olenca, Séfora e Juliana acompanhamos o Rafael no seu encontro com o ídolo. Ao chegar na calçada, o Rafael que estava com sua inseparável chupeta, foi recebido por uma saudação especial do Golias: “Oi, menino bonito... tudo bem com você? Mas esta sua chupeta!!! Que coisa feia... jogue ela fora!” E deu uma sonora gargalhada... Imediatamente, o Rafael pegou a chupeta, tirou-a da boca e jogou-a na rua. Golias vendo a reação dele emendou: “Muito bem... é isto mesmo... agora não vai mais chupar chupeta e vai ser um menino mais bonito ainda...”. Deu um tchau e seguiu no seu carro.
A partir daquele dia o Rafael nunca mais pediu chupeta. O Golias tinha feito com que ele abandonasse a chupeta, com seu bom humor e a ingenuidade de um homem que sempre foi um brincalhão menino de São Carlos.
O desaparecimento do Ronaldo Golias, na madrugada deste 27 de setembro em São Paulo, é uma perda para a cultura brasileira. A marca do seu humor singelo, das suas brincadeiras, do seu jeito sempre moleque, de como ele usava seu boné. Tudo isto me dá uma enorme saudade. Saudade hoje, que milhões de brasileiros devem estar sentindo, da pureza, da generosidade de um comediante que fez um menino abandonar sua chupeta e aprender, anos depois, a ser homem e confiar nas suas decisões. Mesmo nas tão prosaicas como a tomada naquela manhã de domingo, em 1979, em São Carlos.
(*) Rogério Viana, é jornalista em Curitiba