Homenagem aos meus alunos que fizeram o Enem. O medo do papel em branco

Homenagem aos meus alunos que fizeram o Enem.

O medo do papel em branco

Tem hora que se da "de cara" com o tema e não se consegue escrever nada. Parece que o assunto está descansando e a caneta não quer responder à mão. São horas paquerando e fitando o papel e ele nem "bola" dá. Pensa-se até em desistir, mas não se pode ficar mudo nem ser vencido pela falta de criatividade.

Mil argumentos começam a se desenvolver, ou melhor, começam a pulular, mas nenhum quer obedecer, todos querem se guardar; fogem como o diabo foge da cruz. Nessa hora, percebe-se que não se tem tanta intimidade com a palavra, pois quando a convoca, ela nem sempre se apresenta. Deve-se respeitar o seu resguardo, mas não é permitido esperar a sua boa vontade para se mostrar. Por isso que, muitas vezes, tenta-se arrancá-la a qualquer custo, usando até de força bruta para que, assim, ela surja. Ela vem nervosa, exigindo logo o ponto final, mas é preciso persistir, colocar mais um parágrafo e seguir em frente. Põe-se a vírgula para tomar fôlego, mostra-se gana e paciência e até reticências (ideias); tem que ser renitente.

O texto provoca e mostra suas regras, é necessário quebrar algumas e impor a caneta. Tem que vencer, não se deve perder, senão ficar-se-á estático e ouvirá um papel bradar o mutismo. Nota-se que a perseverança deve seguir até a última frase, pois, um desleixo, o assunto some e deixa a ver navios, ou melhor, a escrever o nada e discutir o óbvio - baixa informatividade.

O papel em branco é assustador, contudo, deve-se vencer os traumas, pois as frases, muitas vezes, não aceitam o medo, nem pudores. É necessário finalizar o texto, provar que é dono dos parágrafos, senhor dos argumentos e contra-argumentos e que se sabe responder à teses e dar soluções.

Enquanto não se chega ao final, não há sossego, provoca-se as palavras e é de se esperar reações esdrúxulas, tudo isso, é uma tentativa de conduzi-la à maneira que se quer. De tanto insistir, ela começa a obedecer; é vencida pelo cansaço e pela força de vontade.

Depois do texto terminado, é preciso que se faça a revisão; a palavra pode enganar e fazer cometer erros, até primários; uma vingança desnecessária. Pede-se desculpa pela força usada e sela-se, novamente, a amizade; um tanto quanto atribulada, mas sempre, sempre será criativa.

MÁRIO PATERNOSTRO