Fotografia antiga, imaginação presente.

Uma vez mais, para meu prazer, vejo-me diante de outra fotografia do passado de minha Itabira.

De um tempo no qual eu ainda não havia nascido, mas um passado visto e vivido pelos meus avós, meus pais, meus tios, e outros amigos mais idosos.

Como de costume, a imaginação insiste em conduzir-me até lá, naquele exato momento, e naquele mesmo local focalizado, no qual eu não tive o privilégio de ter vivido.

Por alguns instantes, fico a imaginar o que lá esteve fazendo aquela gente minha, tua, nossa.

Sinto-me caminhando por aquelas vias e ruas tão vazias, nas quais ainda não circulavam os ruidosos veículos automotores da atualidade.

Prossigo, observando suas sedutoras colinas, ainda intocadas pelas mãos do capitalismo.

Muito me atrai o viço das árvores ainda virgens e o barulho das águas que serpenteiam pelas matas ecoando suavemente o suspiro suave que brota do seio da terra fértil e de doce aroma.

Algum sabiá canta preguiçosamente sobre uma árvore frondosa.

De repente, em uma janela salpicada de estrelas, que se abre, avisto uma senhora de cabelos já esbranquiçados pelo tempo.

Sorrio e aceno-lhe com a mão direita. Ela corresponde-me, acenando e sorrindo também.

Do interior daquela casa o vento transporta até mim o aroma inconfundível de um cafezinho bem caseiro recém coado.

A hospitaleira senhora me faz perguntas sobre meus parentes e meus pais. Dialogamos, relembramos de algumas pessoas......

Convida-me então para um cafezinho; já eram umas três horas da tarde. É lógico que aceitei, prontamente!

Muita conversa, como se fazia tão comum nos tempos de outrora.

Ela ainda serviu-me uma saborosa broa e um apetitoso queijo caseiros, e aquele inigualável café adocicado com rapadura... Ah, que felicidade! Demorei-me, pensando que aquele tempo era todinho meu também.

Saindo de lá, passei pela matriz do Rosário, caminhei alguns instantes mais, e alguém me convidou a um passeio.

Acomodei-me sobre o arreio de um deslumbrante cavalo malhado, e lá fomos nós, em busca de um riacho para atenuar o fortíssimo calor.

Naquela direção, nada de riachos, mas chegamos a um piquenique instalado na verde relva, sob a gigantesca sombra do imponente Pico do Cauê, ainda intacto.

Mesmo que em imaginação, pude ver-me em pleno convívio com os meus avós e pais, ainda bem jovens, e em companhia do grande poeta Carlos Drummond, do santeiro Alfredo Duval e do Batistinha, além de outros parentes e amigos do passado.

Foi deslumbrante sentir-me ali junto daquela gente.

As horas transcorreram fugazmente, e o bucólico luar itabirano já prenunciava uma belíssima noite. Em uma varanda próxima, dois ou três adultos faziam uma sonora seresta ao som de um violão.

Parei um pouco por ali para ouvir aquelas canções cantadas com muito entusiasmo.

Chegando ao final, foi tudo como um aconchegante sonho no qual a gente imagina estar vivendo de fato.

Antigas fotografias trazem em si esta doce magia, de provocar em muitos um desejo de terem também estado por ali, naquele exato instante, sentindo toda a sedução de um tempo menos agressivo e menos desumano que os dias atuais.

Anos fantásticos, de muito mais paz, mais amor, mais consciência e menos vaidades.

Harock
Enviado por Harock em 26/10/2015
Reeditado em 07/01/2020
Código do texto: T5427666
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