O REFLEXO DA CISMA.

O REFLEXO DA CISMA.

A igreja estava fechada,de longe era possível ver as brutas trancas de ferro presas aos gigantes cadeados.Os santos todos em repouso cada qual em sua cantoneira, o sino calado, no alto da torre uma cruz mirava o céu. Galdino feire quebrou a aba do chapéu ,ajeitou o bigode,pegou o canivete , descascou o fumo,tosou a palha, enrolou ,enrolou,olhou um pássaro que tecia um ninho numa alta palmeira,olhou novamente o céu,

roeu umas palavras,meteu a mão na algibeira,pegou a binga, solou o dedo de forma que chispas de fogo cuspiu pelos arres, aos poucos a fumaça percorria os caminhos dos teus pulmões.A manhã estava morna, um pequeno riacho escorria por detrás da igreja, o chafaris gotejava paulatinamente gotas claras como cristais. O arraial ainda dormia , tudo calmo, o sereno da noite ainda reluzia na relva.

Aos poucos uma janela se abria, um tossido ameaçava o silêncio,uma galinha cacarejava, um cão rosnava, um menino buscava o sol, fumaças aqui e acolá , de forma que o arraial aos poucos ia nascendo.

Um pássaro cantou triste,Galdino Freire, buscou num pequeno capão um arbusto imponente, o canto cingia a interpretação de mal agouro.

Galdino arrepiou , o peito arfou, o coração amoleceu,e o medo se fez presente, pensou , o que me traz este forte sentido , olhou a igreja tudo trancado, orou em silêncio ,pedindo a proteção do altíssimo ,o povo do arrebol da mutuca, precisava de proteção. Caminhou pela rua ,as marcas das sandálias registravam seu descompasso. Ao longe avistou José Aleluia, rumou a ele,queria compartilhar seu infortúnio,

sabia que José era um sábio na interpretação da natureza, a natureza a ele revelava as derrotas e as glórias, era homem de voga, devoto de São Geraldo . Aproximou, bom dia Zé! Recebeu um aceno de cabeça, em seguida a interrogação ,o que te tirou da tarimba tão cedo. Galdino cofiou o bigode,demorou um segundo, e respondeu,abafamento da alma Zé, a madrugada foi longa, muitas investidas dos pensamentos,

pensamento é coisa que não se amarra Zé. Mas o que tanto te amofina, seu semblante esta carregado, até parece nuvem de dezembro. Gaudino Freire sorriu um sorriso apagado,desbotado ,destes que só se vê na boca de um moribundo. Concertou o chapéu ,olhou para o alto com um olhar sem vida,e em tom lento proferiu, amigo, o arrebol está para receber um castigo. Mas donde saiu essa ideia homem de Deus?

O canto triste do pássaro la no alto do capão me trouxe um frio arrepio,me trouxe desilusão. Amigo vou lhe explicar, não se avexe com isso não,o pássaro que cantou triste,perdeu o teu coração, perdeu a sua amada presa num alçapão,o canto só anuncia a tua decepção com este bicho que se diz gente,que habita estes grotões.Galdino Freire fixou o firmamento,derreteu-se em lágrimas,arfou o peito e sem proferir uma palavra,saiu a procura do malvada que fez esta judiação.

Divino Ângelo Rola
Enviado por Divino Ângelo Rola em 25/10/2015
Reeditado em 25/10/2015
Código do texto: T5426917
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