Futuro prefácio para obras futuras
Sim, estou aqui de novo... não me olhe assim! Sei que prometi não correr mais, não me esconder, mas aqui é mais confortante. Aqui ainda me sinto um pouco vivo, longe dos gritos coletivos. Quanta gente regurgitando mentira por ai. Já tentei entender por que elas sempre continuam a dizer essas coisas em meus ouvidos sensíveis. Eu tentei compreender, mas não as quero perto de mim. São bestiais, são ignorantes. Elas repetem as mesmas frases todos os dias. Repetir palavras vãs é o mantra para desiludidos, perdidos e findados. Deixe-me aqui, não me condene. Estou apenas tentando proteger o meu coração.
A movimentação daquele relógio central me incomoda. Tempos estranhos foram escolhidos para que eu nascesse, ou seria o mundo estranho? De fato nada por ali parece sensato, muito pelo contrário, parece insano viver nessa realidade. Vida... é muito confuso para a minha pobre mente entender como todo esse mecanismo funciona. Quem entenderia, afinal? Seriam agentes externos influenciadores dessa ignorância? Às vezes sinto como se estivesse preso dentro de uma projeção imperfeita, onde quando a verdade é descoberta algum homem de preto apaga a informação da mente. Essa é a única explicação plausível, talvez eu escreva um livro sobre, mas preciso de papel.
Não quero me integrar novamente aquilo ali. Olhei e achei feio, toquei e senti repudio, ouvi e queria arrancar os meus ouvidos. Era muita repetência de preconceitos, eram vozes depressivas castigando as suas miseráveis vidas... “e o passado era muito melhor.” O que é então o mundo nosso? Parece que chegamos ao fim de uma construção humana e nos transformamos em espectadores daqueles que já se foram. Vejam os nossos tempos! Vejam a nossa expressão! Ainda temos e teremos muito a oferecer e construir, mesmo que nossas palavras se limitem a repetir o que tantos já disseram lá atrás, já disseram tanto que é difícil conseguir algo totalmente novo. Só espero que isso signifique alguma coisa a quem lerá no futuro. A literatura de quando parece não ter sentido algum, outras vezes parece fundamental.
Mas o que eu falo? Pois apenas me escondo aqui, tenho medo de mostrar o meu rosto. Que moral teria então para criticar o silêncio? O saudosismo? “Muito pior que o mais crápula dos homens é aquele que se acovarda...” é você já me disse isso. Eu me lembro, e isso me remói, antes eu gritava nas ruas, gritava só, isso me entristeceu, deixou-me com medo. Uma daquelas noites sozinhas algo dentro de mim queria a fuga, não valia a pena gritar por quem não pediu o grito. Depois que as distrações tiraram as minhas vendas, eu estava nu, carente de um aconchego. Por isso fugi e hoje sou mudo, quero proteção.
Que tudo se acabe então. Aquelas bases mal construídas que caem... Erga-se de novo um mundo, impetuoso e glorioso, novo mundo! Como é bom ser jovem, um pouco mais idealista, um pouco mais imaturo... acreditar que a revolução pode estabelecer uma vida melhor. Quantas abstrações já não rondaram em minha mente. Vê-las em práticas seria ideal para uma realidade perfeita, mas a perfeição parece sem sentido, irreal demais. Acabo, com isso, tornando-me um dos mesmos que quer o mundo segundo a sua imagem e semelhança. Somos todos reis de nossos próprios planetas, isolados, confusos, livres e presos.
O que é a mudança então? Uma abstração coletiva? Todos têm as suas próprias revoluções em suas cabeças. O mundo é tão pouco para muitos e sempre mais se necessita dele. Ah, vida uma casa, uma família, uns livros, um sossego, é isso que eu quero ou parece pouco demais? Estou sempre querendo alcançar tão alto, sempre tão frustrado. É então, talvez essa a origem de tanta tristeza, que vontade de correr e chorar, largar o esconderijo comum e sentir o mundo fluir! Que o universo me dê forças para levantar.
Quero ser independente, autossuficiente, mas não quero ser só. A solidão parece agradável e envolvente. Não me quero perder em suas águas novamente e em um dia qualquer ver-me vazio. Quero pessoas ao meu redor, mas não aquelas irritantes. Quero risadas e conversas descompromissadas. Coisas que completem e engrandecem... Onde estão?
A vida é mais difícil do que as séries, animes, filmes e livros. Nem tudo tem a sua linearidade perfeita. Distorções, imperfeições e um meio no caminho é o que há. O meio é a parte que mais se difere da ficção, no meio não há superação, opressão e revolta, nele há o medo e a omissão. Estou perdido e perdi também o sentido para as coisas. As coisas entediam, os papos entediam até mesmo os debates entediam. Quero continuar em meu escuro aqui, no submundo de minha própria imaginação. Bata a porta que eu te deixarei entrar.