CARTAS DE DRUMMOND
AS CARTAS DE DRUMMOND
Nelson Marzullo Tangerini
A carta sempre terá seu valor histórico, porque, nela, estará sempre a grafia, retrato vivo de nossa personalidade, a nossa emoção e nossa assinatura.
Machado de Assis, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, entre tantos outros escritores, deixaram cartas para os pósteros.
Sobre o assunto, escreveu, certa vez, o escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura de 1988: “ Em uma carta ainda pode cair uma lágrima, mas um e-mail nunca se fará acompanhar de emoções”.
Durante algum tempo, na década de 1980, mantive correspondência com o poeta Carlos Drummond de Andrade.
Algumas vezes conversei com ele por telefone – e isto ficou apenas em minha memória.
Drummond também trocou cartas com Mário de Andrade, que trocou cartas com Manuel Bandeira e Fernando Sabino, que trocou cartas com Clarice Lispector.
Longe de mim querer me comparar com estas estrelas de primeira grandeza da literatura. Sou apenas o humilde professor que tenta fazer com que o seu aluno se apaixone pelas letras.
Em meu livro “O professor e o poeta – Cartas de Carlos Drummond de Andrade a Nelson Marzullo Tangerini” presto uma homenagem ao ilustre cidadão itabirano que muito me influenciou na minha formação literária.
Os assuntos foram os mais diversos: as caricaturas cubistas de Nestor Tangerini, meu pai, a poesia de Cora Coralina, a casa do poeta Cruz e Sousa, no Encantado, subúrbio do Rio, a música do mineiro Toninho Café, as canções dos Beatles, as cartas de Mário de Andrade a Manuel Bandeira, a luta ecológica, entre outras questões.
Talvez tenha sido feliz pelo fato de, nos anos 1980, ainda não existir o tão frio e-mail, que nos distancia através da tela de um computador e por guardar, comigo, a caligrafia viva do poeta Carlos Drummond de Andrade.
Posso discordar levemente de Saramago, porque, embora não tenha o valor histórico de uma carta - com envelope, selo e carimbo dos correios -, o e-mail também pode nos causar emoção, ainda que esta emoção não seja tão humana e artesanal.
Publico este livro para homenagear o gauche de Itabira, Minas Gerais, onde estive tantas vezes. Nada mais.
Agradecido, poeta, por responder-me quando, muitas vezes, fazia-te perguntas quase sempre infantis.
Nelson Marzullo Tangerini, 60 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de língua portuguesa e literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba, onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini, na ALB, Academia de Letras do Brasil, e da UBE, União Brasileira de Escritores.
nmtangerini@yahoo.com.br