VAMOS À PESCA!
O texto a seguir é continuação do anterior e foi extraído de “Crônicas da Vida Inteira”, livro inédito sobre fatos da minha vida, adaptado para o Recanto das Letras.
VAMOS À PESCA!
Sozinhos naquele casarão enorme, cada um pensava em alguma coisa com que ocupar o tempo. Nem jogar um futebolzinho era possível pela falta de gente, e o vôlei não era lá um esporte muito apreciado pela turma. Mesmo assim, de vez em quando saía uma partida e outra.
O recurso era nadar no rio ou então pescar. Mas eu nunca gostei de peixe, muito menos da pesca. Um dia, de tanto os colegas insistirem pra acompanhá-los na pescaria, eu me animei e fui. Armaram-me de caniço e anzol, e lá fomos nós pra beira do rio. Lá chegados, cada um se amoitou à distância de uns três metros do outro, desenrolou o barbante do caniço, botou a isca no anzol e zas! Minhoca n’água. Feito isso eu também, puxei prosa com o vizinho.
— Psiiiiiiiiiiiu! — ouvi de vários deles, todos de dedo nos lábios.
— Se falar, espanta os peixes — sussurrou-me um deles.
— Huuuum! — concordei contrariado e sem-graça.
Não gostei, mas fiquei ali uma meia hora ou mais sem poder dar um pio. A mosquitada era de enlouquecer. As pernas, os braços, o pescoço já estavam chiando de tanto coçar e de tantos tapas. E nada de um maldito peixe beliscar a isca pra ver se ao menos eu me animava. Lá pelas tantas eu puxei o anzol da água e joguei o caniço pra longe.
— Vocês ‘tão é doidos. Vão procurar outra coisa mais divertida pra fazer, gente! Pra mim chega! — exclamei enquanto tirava a camisa.
E antes que eles tentassem impedir, eu me joguei na água e saí nadando pra longe dali. Ouvi xingatórios, vi braços levantados em protesto e terços rodopiando no ar. Foi aí que eu saquei o espírito da coisa: muitos deles aguentavam aquele sofrimento como penitência e aproveitavam pra rezar ali quietinhos, suportando os desapiedados mosquitos. Por isso é que eu não via ninguém se bater. E cheguei a pensar que o meu sangue fosse mais gostoso. “Eu, hein!”. Minha piedade não era pra tanto.
Acabou-se a pescaria daquela tarde. O jeito foi todos se conformarem e cair na água também. Na tarde seguinte ao vê-los apetrechar-se pra ir à pesca sem me convidar, fiz a cara mais inocente do mundo e me dispus a acompanhá-los.
— Não, não, fica aqui, fica — repeliram-me em coro.
Foi então que eu fiquei livre deles, pra fazer minhas arteirices que não foram poucas naquelas férias.
Convite: Se você gostou desta minha crônica, do meu estilo de narração, leia as anteriores, mas em ordem cronológica, começando pelas primeiras que foram postadas.