Aula de leitura

Aula de leitura no terceiro ano do antigo "Grupo escolar", e a nossa professora chamava aluno por aluno, que de pé liam um trecho do texto, e ela muito séria fazia a sua anotação, para no final do mês dar a nota final.

Eu lia bem, mas com um forte sotaque, pois havia chegado da Espanha havia pouco, e estava aprendendo o português e a sua pronúncia, o que é muito difícil , ainda mais para as palavras abertas e fechadas, e confesso que até hoje ainda me equivoco com alguma, como "forma", por exemplo. Na faculdade , muitos anos depois aprendi que é um código genético, e não se considera erro algum para um estrangeiro, aprende-se no ventre da mãe, por incrível que pareça, e não dá para corrigir. Para um brasileiro a palavra sai espontaneamente, mas para quem é de fora, é preciso pensar por um décimo de segundo, para depois falar.

A menina da carteira da frente, Miriam , começou a rir durante a minha leitura, mas eu não interrompi, e continuei lendo, pois era a minha avaliação, mas a Dona Iracema me mandou parar, e se dirigiu muito brava para a menina, que era ótima aluna, e lhe deu um sermão muito bem merecido, e que nunca mais esqueci. Ela lhe disse para "pegar o rabo e sentar em cima", quase gritando. Miriam olhou para mim com os olhos marejados, a cara vermelha de ódio, e me cravou um olhar de lança, pois eu havia sido o motivo para ela ter sido envergonhada em público. Apenas a olhei sério, e triste , mas não senti culpa alguma, pelo contrário, eu só queria ser como os outros , mas percebi que não era.

A Dona Iracema era muito severa, eu mesmo já havia levado bronca dela muitas vezes, assim como a maioria dos meninos, mas com as meninas já era outro assunto, ela dificilmente descia dos tamancos, mas naquele dia foi diferente, e vi o quanto ela podia ser justa em sua forma de ensinar.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 23/10/2015
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