Bah, tchê!
Mais um Janeiro chegou, novamente juntei minha turma e partimos rumo ao Sul do Brasil. Desta vez minha tia estava nos mandado para Capão da Canoa, no Rio Grande do Sul, onde ficaríamos numa casa de praia da Congregação.
Assim que chegamos nos deparamos com uma casa linda, enorme, um gramado muito bem cuidado na frente e na beira do mar! Era tudo que um bando de mineiros poderia querer na vida!
Entramos, escolhemos os quartos e, como dona da excursão, já fui logo determinando:
_Eu fico com a cozinha e com tudo que diz respeita a ela: café da manhã, almoço, lanche, mas não arrumo nem minha cama. Podem distribuir o resto das tarefas entre si e lembre-se que odeio tomar banho e andar dentro de casa com areia.
Eu saia da praia mais cedo para cuidar do almoço e quando chegavam era uma confusão, banho, roupas jogadas, biquínis pendurados no banheiro, chinelos largados na varanda, toalhas deixadas em qualquer canto e finalmente almoçavam. Bom, almoçavam e deitavam para descansar.
Aquilo me deixava muito irritada, pois minha cozinha estava arrumada e a casa um verdadeiro lixo, que só seria arrumada (e se fosse) lá pelas 17:00 hs.
No final de semana chegaram nossos vizinhos da casa ao lado e vi dois rapazes. Entre nossas casas havia apenas uma cerca viva baixinha separando os dois gramados. Chamei a turma e disse-lhes:
_Gente, temos vizinhos!
Correram todos para a varanda enquanto os vizinhos tiravam a bagagem dos carros.
Já bem a tardinha, chegando do mercado, vi que os rapazes estavam no gramado jogando umas bolas que tinham de acertas umas nas outras. Guardei as compras e vi que a casa estava uma zona e todos assistiam televisão. Cheguei à porta da varanda, os vizinhos não estavam mais lá, então eu disse bem alto:
_ Ei vizinhos, venham aqui para tomarmos um cafezinho!
Meu Deus... foi um Deus nos acuda dentro daquela casa. De repente todas corriam catando roupas, toalhas, chinelos, calcinhas e eu lá fingindo que conversava com os meninos.
_É só pular a cerquinha aqui...
Quando tudo estava impecavelmente arrumado foram chegando e viram que eu estava blefando.
Fiz isso mais umas duas vezes, para que a casa fosse arrumada, mas depois não dava mais resultado, pois já não acreditavam mais em mim.
Numa tarde bela e quente, preparei o lanche, arrumei a mesa, enquanto a turma estava esparramada na sala, tomei um cafezinho e no corredor encontrei com Jane entrando no banheiro e pedindo:
_Ana Paula, traga um rolo de papel higiênico pra mim.
Peguei um cigarro e fui pra varanda. E não é que lá estavam os rapazes jogando as bolas? Tranquilamente, olhei pra eles e falei:
_ Oi vizinhos! Venham tomar um café comigo! Precisamos nos conhecer, uai!
Eles me cumprimentaram com um aceno e eu disse:
_Meu nome é Mariza! Pulem a cerca aqui mesmo, não precisa dar a volta na rua.
E todas se mantinham estiradas na sala acreditando que era outro blefe meu. Eles vieram e quando as meninas ouviram a voz deles conversando comigo na varanda o bicho pegou lá dentro. Não consigo explicar onde, em questão de segundos, foi parar tudo aquilo que estava na sala. Ouvi portas batendo, devia ser pra esconder a bagunça dos quartos. Elas foram chegando, fui apresentando meus amigos, Rafael e Rodrigo para cada uma e entramos para o lanche. A conversa rolou solta. Nós achávamos engraçado o jeito deles e eles se divertiam com nosso Uai .
A tarde passou rápido ao redor daquela mesa e cerca de umas três horas depois eles decidiram ir em casa e voltar para jogarmos baralho a noite. Acompanhamos nossos amigos até a varanda e ao entrarmos, nos deparamos com Jane abrindo a porta do banheiro e falando:
_Ana Paula, sua égua, cadê o papel higiênico que eu lhe pedi?
Coitada! Passou a tarde trancada no banheiro, sem o papel higiênico, com vergonha de dar a descarga por causa das visitas.
Houve uma crise de riso dentro da casa, tanto pela situação quanto pela cara de raiva de Jane.
Voltaram à noite e ao ver Jane, Rafael perguntou?
_ E esta Guria, quem é? Ela não estava aqui a tarde, não é mesmo?
Respondi rapidamente sem encarar ninguém:
_Não, esta é Jane e ela estava no mercado fazendo umas compras à tarde.
Arrisquei olhar para as meninas e vi que os rostos estavam ficando vermelhos e as bochechas inflando. E de repente houve outra explosão de gargalhadas incontidas e quando conseguimos controlar o riso, contei aos rapazes o que havia acontecido, pois eles ficaram apalermados diante de tanta risada. E só então ouvimos aquela coisa tão pitoresca:
_Bah, tchê!!! E como essa guria não morreu lá dentro?