UM LOUCO CURIOSO

Toda terra tem seus loucos e Malhadinha também tinha os seus. Conheci quando menino de 15 anos em Malhadinha, um senhor chamado de Seu Rodrigues que era a graça de todo mundo. Seu Rodrigues durante o dia, mudava de roupa umas 5 ou 6 vezes, deixando todo o povo de minha terra atônito. Não tinha hora certa ou dia exato para ele não passar em frente a nossa casa carregando uma vara numa mão e na outra uma bolsa cheia de papel ou coisa parecida. Eu gostava de ouvir o velho maluco conversar as suas idiotices e contar histórias de Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Liberato Firmino, Casimiro Honório do Navio, Pedro Praquió, João de Calais, e até o famoso Cabeleira. Quem não conhecia Seu Rodrigues pensava que ele era um homem letrado e de sã consciência. Ele era autêntico na sua palestra e tinha como ninguém uma maneira fascinante de contar as suas lorotas. Muita gente tinha pavor ao Seu Rodrigues pela maneira estranha do velhote lunático. A Tia Ana gostava de dar café ao Seu Rodrigues e conversar com ele. Quando eu comecei a cantar repente, Seu Rodrigues ia sempre me ouvir e bater palma pelos versos que eu fazia. Era um ouvinte certo que eu tinha no palco da cantoria. Nunca pude saber de que família era o nosso vizinho insuportável. Não conheci filhos e nem filhas do velhote e se teve companheira, também eu não sei dizer. Seu Rodrigues gostava de trajar um paletó preto e uma gravata vermelha, coisa mesmo de gente rude. A Tia Marica tinha um tremendo pavor ao Seu Rodrigues pelas histórias grotescas que o velhote contava e afirmava serem as mesmas verídicas. Dizia a Tia Marica que Seu Rodrigues além de doido era também um verdadeiro sem vergonha. Quando a Tia Marica contava alguma história ou alguma poesia lida nos seus bons livros, o Seu Rodrigues desaprovava como se ele conhecesse aquela história autêntica. Ninguém tinha mais tolices para contar do que o Seu Rodrigues, o nosso louco mais importante que já teve em Malhadinha. As cabrochas da minha terra tinham muito medo do velho maluco e enxerido. Quando o velho via alguma jovem bonita, ficava ele todo falante e saltitando como um doido perdido num lugar estranho. Foi a figura mais fantástica que viveu em nossa Malhadinha durante toda a minha vida de menino. Esta figura hedionda ficou dentro de mim para sempre. Não sei dizer com clareza como foi o fim do Seu Rodrigues ou se ele foi morrer distante da nossa terra, ou se algum parente do mesmo o amparou no final da sua vida. A casa em que morava o nosso personagem era bastante feia e mal cuidada. Ninguém visitava o nosso louco de maneira alguma porque todo mundo tinha um medo terrível do velho estranho. Quando a Tia Josefa fazia sua Via Sacra, o Seu Rodrigues também acompanhava rezando tão alto como quem queria amedrontar o povo. A Mãe Maroca, a Velha Mariana e Seu Rodrigues fizeram à minha infância alegre, embora sem os carinhos de Donatila de Santiago Lima, a minha mãe biológica, morta aos 40 anos de idade. O desaparecimento do nosso velho insano deixou muita dúvida em todos os nossos conterrâneos e parentes, como também nos amigos que o conheceram em nossa terra querida. O Seu Rodrigues para mim foi a figura mais fantástica que conheci durante toda a minha infância em minha terra natal, a velha Malhadinha dos meus avós paternos.

Autor: Antônio Agostinho

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 20/10/2015
Reeditado em 20/10/2015
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