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REFLEXÕES BUROCRÁTICO-CONTÁBEIS 
(Divisor de Águas)

Estou convencido de que cheguei ao meu divisor de águas. Dentro de alguns meses deverei completar sessenta anos de vida neste mundo cármico tri-dimensional. Creio que nele vivi, até aqui, em sua plenitude. Sofri e fiz sofrer; auxiliei e auxiliaram-me; chorei e fiz chorar; sorri e fiz sorrir; perdoei e perdoaram-me. Assim que não me queixo e muito menos nihil me arrependo.

Neste nostálgico, existencial e breve inventário porém, comparo, em uma azulada visão, os razonetes da vida às sublimes colunas dos créditos com as púrpuras colunas dos débitos. Vejo um saldo de cor azul. Concluo, pois, que paguei minhas dívidas com saldo positivo no Caixa. Isto, aqui entre nós, fará com que este caracol ao qual arrasto por todos estes anos, quando de cujos tornar-se, os vermes devem de roê-lo sem repugnância. Hão de digeri-lo lentamente... Hão de degustar-lhe de mordida em mordida como quem degusta um vinho suave de boa safra. Até mesmo por causa do Diabetes.

Bem, com este sentido Confessio formulo o registro de o meu divisor de águas. Daqui para frente tudo mudará por conta de um estressante exame de Cintilografia Miocárdica, procedimento médico por raios gama da Medicina Nuclear, pelo qual minha obesa carcaça passou há alguns dias.

Vi-me, no dia de o exame em tela, diante da Velha Nefasta, como se refere Augusto dos Anjos, à Morte. Eu a senti muito próxima. Apenas uma tênue camada etérea nos separava. Nesse fatídico dia eu a vi conforme já sabido: o magérrimo ou anoréxico corpo das Modelos de grife coberto por um vestidinho básico, tubinho, de cor preta, estendido até ao meio de suas expostas tíbias. Às suas mãos, o seu inseparável, grande e reluzente cutelo firmemente preso. Com seus olhos cor de mel, grandes e possessivos mirava-me fixamente por debaixo de seu capuz igualmente preto. Fazia-me chegar à consciência, de alguma forma que desconheço, o seguinte recado: "faço-te agora somente uma visita amistosa, velho homem! Fiqueis sereno! Pois, quando eu vier em visita oficial cuidarei apenas do teu envoltório físico, porque quanto a tu, em essência, já cuidaste tu, por ti mesmo!"

Não senti nenhuma forma de temeridade ao mirar e sentir tão singular personagem. Porém, de ali em diante pus-me a pensar sobre a minha realidade vivencial neste Plano. Assim como em interagir comigo mesmo com relação aos cuidados que devo tomar, ora em diante, com este Instrumento Material que me foi destinado, fundamental para a manifestação ascendente ou descendente da eternal Força Vital.

Afinal estou com idade biológica e maturidade espiritual suficientes para dar-me conta de que devo amar-me mais, respeitar-me mais, cuidar-me mais, ouvir-me mais. Com profunda reverência à fraternamque societatem inter homines pela qual este envelope carbônico tem recebido orientações comportamentais e complementares à velha e boa experiência de vida... Sem pérfida modéstia eu penso comigo mesmo: "se tenho a mim, tudo tenho!"

Quem quiser seguir-me, venha... Basta deixar a covardia e a mediocridade de lado. Venha! Apenas se disponha de vontade e coragem. Porque, meus caros, sem medo de errar: "as pestes mais daninhas aos seres humanos são: a covardia, a indolência, a mentira e a ignorância !".

Registro feito e auditado. Tome-se vista. Arquive-se!
Luiz Carlos Gomes
Enviado por Luiz Carlos Gomes em 20/10/2015
Reeditado em 18/02/2017
Código do texto: T5420653
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