TARDE DE SÁBADO
Sábado de clima quente, sol fazendo coreografias no asfalto e emblemas em meus olhos, água ou ígneo prenúncio?
Fujo do asfalto, busco o frescor dos lagos e das árvores que os rodeiam. Na estrada, brinco com corujas que pousam, atenciosamente, em mourões de cercas.
Aos poucos, vou me afastando do calor urbano e me embrenhando em matas e plantações, um tanto ressentidas com a força do sol. Talvez seja nisso que as corujas tanto pensam, enfim...
À beira dos lagos, procuro sombras, mas quero daquelas bem fechadinhas, sem a renda do sol entre folhas de árvores. Encontro uma, estendo minha toalha amarela, uma pequena almofada que me servirá de travesseiro, retiro o livro da sacola, deito-me sobre a toalha e me ponho a ler, com a cabeça apoiada no improvisado encosto.
Enquanto leio, sinto o frescor do vento, ondeando as águas e me fazendo bem ao corpo. Ouço o burburinho dos pescadores nas barrancas dos lagos e a agitação das ondas. Algumas tilápias espiam à flor d’água, feliz balé.
Opto por não pescar, prefiro os peixes dançando em seu habitat. Eles devem divertir-se com tantas bolinhas que lhes jogam para comer. Torço, com todas as minhas convicções, para que os pescadores se frustrem e voltem com os embornais vazios.
Jesus multiplicou pães e peixes para mostrar a fé pequena de seus discípulos, os quais queriam livrar-se da multidão. Alegaram não haver alimento para todos naquele local e preferiam que o povo se deslocasse para a aldeia, a fim de adquirir comida.
Hoje, há grãos germinando na terra, da qual as corujas são sentinelas. Que brotem as sementes e que os homens as plantem em grande quantidade, inclusive, que não duvidem da principal semente a germinar: a fé na colheita.
Os peixes? Eles que fiquem n'água.
Dalva Molina Mansano
19:29
19.10.2015