As vozes daqueles que não podem falar - Ato I

Ato I

“Eu não entendo... O que fiz de errado?”

Achei que éramos amigos, companheiros para toda a vida. Você costumava estar sempre ao meu lado, correndo comigo, brincando comigo, sorrindo, comendo, até mesmo dormindo comigo. O que mudou?

Será que foi por causa das noites em que eu tirei seu sono por conta dos meus lamentos?

“Mas eu era apenas uma criança, e aquele quarto era frio e escuro.”

Será que foi por conta das muitas bagunças que eu fazia quando você me deixava em casa por todo o final de semana?

“Mas eu me sentia tão solitário sem você para brincar.”

Ou então será culpa dos inúmeros objetos que destruí?

“Eles eram tão parecidos com meus brinquedos e o cheiro sempre me lembrava de você.”

Não entendo. Por que então? Por que me abandonaste? Após me dar tanta esperança, por que tirar de mim o lar e a felicidade que me prometeu? Por que me enganar com um passeio, quando seu intento era me deixar naquele local isolado quando eu estivesse distraído?

Não fui eu um bom amigo? Não estive eu ao seu lado, para lhe consolar nos momentos de dor, e vibrar em conjunto nos momentos de alegria?

Então, por quê?

Por que me abandonaste?

Relato de um cão abandonado.