S U C E S S O

Adoro a linguagem regional. Sim, a que não é culta, a falada pelo povo. Posso até estar errado, à luz das normas gramaticais, mas que seria da cultura brasileira sem as peculiaridades das linguagem regional? Defendo até as gírias, muitas delas já dicionarizadas; quem faz as palavras é o povo.

Vou tentar nesta maltraçada apenas de uma palavra que na minha Região, não raro, era usada em desacordo com a definição do dicionário. Refiro-me à palavra sucesso. Segundo o dicionário quer fizer triunfo, vitória, ser bem-siucedido... Mas na Arcoverde do passado era usada também pasra designar o que não era bem-sucedido, o acaso, algo inesperado. Estão duvidando? Estão rindo? Estão pensando que endoideci de vez? Não, estou falando sério, sucesso designava também algo que deu errado ou aconteceu por acaso.

Vou dar um exemplo, esse negócio de teoria é frescura, maturbação sociológica. Um amigo do meu pai, um cara progressista, bem de vida e da oposição ao PSD, partido que mandava e desmandava em Pernambuco, era amigado com uma dona muito bonita, trabalhadora, solidária, corajosa, gente fina, mas era muito volúvel, tão ligados? Um certo dia o companheiro dela soube dos casos dela. Ficou triste e bebeu muito, e resolveu tomar satisfações com a dona. Brigaram feio,briga mesmo, a dona era o cão chupando manga. Acho que houve até roleta e muita agressão verbal, o sujeito desesperado pegou o revólver e resolveu dar um susto nela, dar um tiro para fazer medo, ela mesmo contou depois, mas, desajeitado, atingiu a perna da companheira volúvel (só vai rindo), a sorte é que a bala atgravessou a perna mas não produziu nenhum dano sério. Levaram para o hospital, fizeram uma pequena cirurgia e uns três dias depois ela voltou para casa, tudo dentro dos trinques, voltaram às boas, num amor danado. Depois de uns 15 dias, ela ainda se restabelecendo sentada no divã e a perna estirada num banquinho, sempre com uma rosa vermelha no cabelo, pafecia Ava Gardner num filme famoso, "A Condessa Descalça".Não estou brincando, parecia mesmo. Bom, os pessedistas para perseguir "o atirador" exigiram do delegado, um tenen que era capacho do PSD, que ele investigasse o caso. Um advogado da oposição entrou no circuito e acertaram que ela seria ouvida em casa. O tenente foi, ela estava como descrevi com uma rosa nos cabelos, no divã, aperna estirada e um pedaço grande da coxa à mostra, o tenente ficou logo encandiado com a visão. Então ele sentou e perguntou quem tinha atirado nela. A dona já escolada pelo advogado, riu muito e então disse: - Foi um sucesso, tenente! O tiro foi um sucesso. Eu estava bricando com o 38 e aí sem querer disparei o bicho e a bala pegou na minha perna. Foi um sucesso, tenente. E riu à beça. O tenente ainda tomou uma dose de Rum Merino e deu no pé, impressionado apenas com a visão da coxa da dona.

Acabou a investigação, afinal o tiro havia sido um sucesso. Era muito usado essa palavra nesse sentido. Eu ainda uso. Inté.