Hábitos noturnos
“Ele ( Deus ) reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade” Prov 2 ; 7
Interessante definição da sabedoria como arma de defesa, um escudo. Mas, quem atacaria uma dama assim, tão nobre? Alguns predicados podem nos oferecer certos indícios. Seus hospedeiros, os retos; a qualidade em relevo, verdadeira. Desse modo, parece lógico inferir que, há uma “sabedoria” falsa nos depósitos de pessoas da caráter tortuoso.
Já nos diálogos de Platão encontramos vários gládios entre filósofos e sofistas; aqueles, garimpeiros da verdade; esses, meros manipuladores de homens, via retórica persuasiva, produtora de verossimilhança. Sócrates os acusava de produzirem crença sem ciência; adesão sem entendimento.
Qualquer semelhança com os políticos corruptos de hoje não é coincidência, antes, o superlativo da arte, em plena atuação.
O exemplo clássico de sofisma é partir de premissas verdadeiras para induzir à conclusões falsas. Assim: “O cão tem quatro pernas; o cão anda. A mesa também tem quatro pernas, logo...” Percebem a malícia?
Seguido ouvimos: “O PT está no poder há treze anos; corrupção sempre existiu; o PT não inventou a corrupção...” E aí, cacete? Também não inventei o adultério, isso não me autoriza a “cantar” minha vizinha!
Que sensação horrível ser governado por gente muito pior que a gente! Pessoas que não receberia em minha casa são pagas, também por mim, para viver num palácio.
Outro dia, a Presidente desafiou a quem teria moral para atacar sua honra. Não bastasse terem acanalhado palavras como, república, democracia, agora apatifam mais duas, moral e honra. Ora, a desonra é tal, em face às mentiras usadas na sua campanha, sem falar na roubalheira, que só se atreve bravatear assim ante plateias amestradas, escolhidas a dedo para gritarem em forma de mantra, mais um crasso sofisma: “Não vai ter golpe”!
Ora, golpe seria o uso da força e meios inconstitucionais pra chegar ao poder; impeachment é um instrumento da lei para punir autoridades que descumprem-na. Por que não testa sua honra ante plateias normais num estádio de futebol, por exemplo?
Outro sofisma gasto pela choldra é: O único meio legítimo de chegar ao poder é via urnas, voto; a cantilena do tal “terceiro turno”. Ora, mas, não é verdadeiro isso? É. Mas, verdade fora do lugar presta serviço à mentira. O que está em jogo não é a chegada de alguém ao poder, sequer sabemos quem chegaria; antes, a punição de quem chegou lá por meios escusos, ilícitos.
Agora cobram célere punição de Eduardo Cunha, que estaria envolvido em corrupção também. Pois é, se está, seja exemplarmente punido; mas, Aloísio Mercadante, Edinho Silva, a Presidente com seu estelionato, o Molusco que amealhou fortuna pra si e seus filhos ficam de fora? Vale só conta Cunha que tem autoridade pra deflagrar o processo de impeachment? Esse é o senso de moral e de honra dessa gentalha que instrumentalizou ao STF com “ministros” vermelhos, e colocou na PGR Rodrigo Janot a serviço do partido, não, da justiça.
Minha decepção vai à estratosfera quando deparo com textos de gente de bem que foi cooptada pelo discurso fajuto desses párias, e não consegue se libertar mais. Os defende, roubem quanto roubarem. Se, a vera sabedoria citada no princípio é uma dádiva que Deus reserva aos retos, algo ainda está torto em tais mentalidades; talvez, a escala de valores.
Tiago também dissocia a astúcia, esperteza, da veraz sabedoria, diz: “Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.” Tg 3; 13 a 16
Sentimento faccioso contra a verdade; eis o “espírito” que anima aos gritadores de mantra sofísticos!
A armadura espiritual, aliás, é prescrita, justo, para tais desvios do sofista mor e seus sequazes. “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus...” II Cor 10; 4 e 5
Contudo, diria alguém, religião e política não se discute; seu texto funde ambas. Eis aí um sofisma mais, de gente que, por falta de argumento, “promove a paz” tentando silenciar no outro, as vozes da própria consciência.
Não há assuntos proibidos quando o escopo é a verdade. A luz é proveitosa para os retos, como as trevas o são, para os ladrões. O sol não tem culpa dos hábitos noturnos de certos bichos.