Coisa de bicho - Bilú
Hoje ele não seria chamado de vira-lata branco, mas de pelo curto brasileiro. Um gato branco, com ares de aristocrata que chegou pela mão de guarda-chaves, que trabalhava na estação da estrada de ferro, onde morávamos quando criança. Bilú aprendeu, por conta própria, como fazer xixi no vaso sanitário, talvez seu faro e instinto de limpeza fossem responsáveis por isso. Quantas vezes chegávamos ao banheiro e lá estava Bilú fazendo seu xixi. Ele não se assustava, pelo contrário, só depois de suas necessidades satisfeitas ele dava o lugar.
_ Seria bom se ele aprendesse a dar a descarga.
Outra particularidade do Bilú era que atravessava o rio a nado.
_ Mas gato não gosta de água fria, quanto mais agitada.
Se ele não fosse diferente não estaria contando sua história, certo?
Os trens passavam cerca de cinco vezes ao dia, como os horários variavam, esperávamos eles passarem para andarmos nos trilhos ou encostar o ouvido neles para sentir a trepidação, era a diversão da criançada.
Há um quilômetro de distância, um rio de mais ou menos oito metros de largura, cruzava o lugar onde morávamos e a ponte sobre ele, da ferrovia, tinha dormentes espaçados. Do outro lado, umas poucas casas que certamente morava uma gata muito interessante.
A primeira vez que Bilú desapareceu, mobilizamos a vizinhança pra encontrar nosso gato de estimação, principalmente porque sabíamos da fama de um deles que gostava de tomar cerveja comendo tira-gosto de pequenos animais assados. Três dias se passaram e aparece Bilú todo sujo, mais magro e com ar de feliz. Dávamos banho nele sem que reclamasse, enchia o estomago e dormia de barriga pra cima e patas levantadas. De vez em quando ele sumia e começava tudo de novo: a preocupação e a procura. Um dia o guarda-chaves o seguiu quando o viu longe de casa. Bilú chegou à beira do rio e entrou; nadou indo de encontro à correnteza até chegar à outra margem. Como não dava pra saber o que ia ver do outro lado, pois era tomado por canaviais, o guarda-chaves atravessou a ponte e foi até uma casinha bem simples.
_ O senhor viu por aqui um gato branquinho de olhos bem azuis?
_ Às vezes aparece um pra cruzar com a pretinha.
_ É sua gata?
_ Olha moço aqui tem uma porção de gatos.
O guarda-chaves viu uns quatro gatos, malhados, pintados e pretos que rondavam por ali.
_ Tem o pai de todos, o branquinho, que um dia caiu da ponte e fiquei olhando, olhando pra ver o que ele ia fazer. A pretinha estava por perto e deu um miado forte, aí o gato atravessou o rio e foi ter com ela. Toda barrigada da pretinha é do branquinho.
O guarda-chaves nos contou a história. Quando Bilú voltou pra casa todo sujo, meu pai me disse:
_ Cuida dele porque ele é um chefe de família.