EU NÃO SOU MINHA CALÇA XADREZ (Agostinho ou Chaves, eis a questão?)

Sempre apreciei a estampa xadrez em minhas roupas. Há algo nela que me traz alegria. Mas agora, parece que preciso me vestir de palhaço para encarar as ironias do meu ambiente de trabalho. Apesar de ter sido uma criança que temia palhaços, hoje entendo a importância deles em trazer alegria para muitos, mesmo quando estão tristes. Por isso, quero trocar meu jaleco branco, camuflador de pó de giz, pela indumentária colorida de quem vive em um circo, assumindo assim a honra de ser um bom palhaço. Critico minha disposição em me adaptar ao comportamento enganoso que hoje alunos, pais, colegas e o governo exigem da escola e do professor.

Lembro-me das palavras de Cao Albuquerque, o figurinista responsável pelas roupas do elenco do amado seriado “A Grande Família”, da Rede Globo. Ele disse: "Eu pensei que ele tinha que ser anos 1970, porque ele é o cafajeste, enganador, tem uma coisa clown (palhaço, em inglês) e farsesca. (...) O Pedro Cardoso, que interpreta o Agostinho, diz que o figurino ficou próprio de um clown. Ele acha muito legal do ponto de vista de que o figurino ajuda a ninguém ficar com raiva do personagem, mesmo que o Agostinho cometa as maiores barbaridades". Seria tudo que preciso...!

No entanto, o professor é um profissional com uma nobre função: preparar os indivíduos para conviverem, servirem à sociedade e, quando necessário, transformá-la. Tarefas nada fáceis. Então, por que o professor é tão desacreditado por essa mesma sociedade que ele ajuda a formar? O professor é um instigador de ideais, mas ele também precisa sentir prazer com o que faz, ou então, estará sendo forçado a ser hipócrita, falando coisas em que não acredita, transmitindo emoções que não sente. E isso mata a educação. Ou talvez, que se mate a educação antes que eu me mate!

O lado bom de me fantasiar de palhaço não é apenas meu protesto contra os desencantos da escola, mas também contar com um poderoso recurso didático para socializar conteúdos da matriz curricular do Novo Ensino Médio. Alguns colegas já usam a fantasia de palhaço para facilitar suas aulas. O que vale, acima de tudo, é a sobrevivência. "Chegará um dia em que no lugar dos pastores alimentando as ovelhas haverá palhaços entretendo os bodes" - C. H. Spurgeon.

Os alunos precisam mesmo é de professor ou de palhaço? Que tal um pouco dos dois! Que graça tem um profissional agradar o cliente e continuar sendo o mesmo profissional? Vai desgastar! E, por incrível que pareça, o que eles querem verdadeiramente é um palhaço! "Para a aluna Evely Fernanda Damaceno, de 11 anos, a aula fica muito mais interessante e engraçada. “Acho muito legal todas as aulas do professor Júlio. Meu recado para ele é que continue assim”, finaliza a estudante.

Se no primário se acostumou com palhaçada, não se contentará com menos no Ensino Médio e na vida toda. Aqueles que zombam de mim, chamando-me de Agostinho, vestem-se de "pega-marreco": modelito do Chaves, faltando só o suspensório. Então, ninguém é sua calça! E, às vezes, estamos no circo errado! "É diferente, diferente eu também sou, um pouco d'água mata sede , e um calmante passa a dor..."

ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

1. Alegria, Palhaços e Adaptação:

O texto inicia com a valorização da estampa xadrez e sua relação com a alegria. Como o autor conecta essa alegria com a figura do palhaço?

Por que o autor decide trocar seu jaleco branco por uma indumentária de palhaço? Quais as ironias que ele encontra no seu ambiente de trabalho?

Você acredita que a adaptação do professor a um comportamento "palhaço" é necessária para lidar com as expectativas dos alunos, pais, colegas e governo? Por quê?

2. Crítica e Engano:

O autor critica a necessidade de se adaptar a um comportamento "enganoso" no ambiente escolar. Qual a sua opinião sobre essa crítica?

De que forma a figura do Agostinho, da série "A Grande Família", representa essa ideia de "clown" e "farsesco"?

É possível conciliar a função crítica do professor com a necessidade de manter um ambiente positivo e engajador na sala de aula?

3. Função do Professor e Desacreditação:

O texto destaca a nobre função do professor em preparar indivíduos para a sociedade. Como o autor relaciona essa função com o descrédito que a profissão enfrenta?

Quais fatores contribuem para o descrédito do professor na sociedade?

É possível resgatar o valor da profissão docente e reverter essa percepção negativa?

4. Hipocrisia e Prazer no Trabalho:

O autor questiona a necessidade de o professor ser hipócrita para agradar os alunos, pais e governo. Você concorda com essa visão? Por quê?

Como conciliar o prazer no trabalho com a necessidade de lidar com as expectativas e demandas da profissão docente?

É possível ser um professor autêntico e engajado sem abrir mão do prazer em ensinar?

5. Palhaço como Recurso Didático:

O autor apresenta a ideia de usar a fantasia de palhaço como recurso didático. Quais as vantagens e desvantagens dessa abordagem?

Como utilizar a figura do palhaço para tornar as aulas mais interativas e engajadoras sem perder o foco no aprendizado?

Qual o papel do humor na educação e como ele pode ser utilizado de forma eficaz pelo professor?

Reflexão Adicional:

O texto apresenta uma visão crítica da profissão docente, mas também busca soluções criativas para os desafios enfrentados pelos professores. O que você considera mais importante: a crítica ou a busca por soluções?

Qual o papel do professor na formação de cidadãos críticos e engajados na sociedade?

Como podemos fortalecer a valorização da profissão docente e garantir melhores condições de trabalho para os professores?