O Bobo da Corte
Nas cortes dos castelos medievais eram importantes as imagens representativas da sociedade. Estas imagens passavam pelo rei, que era apenas um símbolo – o Poder estava descentralizado nas figuras dos nobres – e chegava até à figuração do Bobo da Corte.
Estes eram anões, quase sempre, para fazer graças, distrair ou mesmo pajear infantes e adultos. Representavam aquilo que todos ridicularizavam, marginalizavam ou rejeitavam em si mesmos. Mas que lembravam a todos o que não deviam ser: Idiotas. Seu papel social era bem mais que ser a piada para todos: representar o ridículo e a própria rejeição de ser.
Com a evolução e as revoluções sociais, avesso a isto, ao mostrar o negativo, preferiu-se evidenciar o positivo. Surge Augusto Comte dizendo que a sociedade deve ter modelos a seguir, a copiar e reproduzir suas bravuras. Surgem os heróis nacionais que a história positivista idealiza inumanamente. É o Napoleão com seu quase alado cavalo. É o nosso Tiradentes representado à moda de Jesus Cristo. Perante estas figuras históricas, as demais da sociedade parecem abobadas e sem atitude a não ser copiar e idealizar seus modos e atitudes.
Sendo os anões das cortes evidenciados por suas “bobeiras” ou os “ilustres” da história, todos não deixam de serem figuras exóticas – fora do centro, da realidade – e idealizadas pelo negativo ou positivo.
São fórmulas que a sociedade encontrou para a veneração e a expiação – figuras lendárias de uma comunidade.
Barbacena teve e tem suas figuras projetadas: enaltecidas ou apiedadas, ilustradas ou negadas. Serviram como modelos para que delas se apiedassem mostrando caridade do pesar ou mesmo choça.
São os seus loucos!
Aqueles com transtornos mentais, cujas famílias descendiam de algum “ilustre” e tinham posses, eram tratados em hospitais psiquiátricos ou sedados nas próprias casas – guardados em cômodos – sótãos ou porões – para ninguém ver.
Outros sem posses, mas não representando violências ou perigos, perambulavam pelas ruas com seus gritos típicos, suas conversas que denunciavam suas demências, e seus afazeres que lhes garantiam o mínimo de sobrevivência:
- Olhe a dobradinha! Era o brado do Botina. E havia também o Mané Capão que fazia as crianças correrem de medo na Rua do Campo.
- Olhe os passarinhos! Era o verso da Isabelinha para os alunos da EPCAR.
- Pipoca! Pipoca! Anunciava a Hercília nos corredores da faculdade.
Colheres batendo e sambando na chuva era o outro. Andando com passos saltitando e com roupas quase femininas e apertadas era o Margareth exibindo sua homossexualidade.
São exemplos de pessoas apontados como negativo e que serviam como expiação para uma sociedade excludente.
“Joga pedra na Geni. Ela é boa para apanhar. Ela é boa para cuspir.” Cantava o menestrel alertando que esta exclusão era típica em outras comunidades também.
Todos são “prisioneiros das ilusões da sua época, do seu país e da sua”* posição social.
Nas cortes dos castelos medievais eram importantes as imagens representativas da sociedade. Estas imagens passavam pelo rei, que era apenas um símbolo – o Poder estava descentralizado nas figuras dos nobres – e chegava até à figuração do Bobo da Corte.
Estes eram anões, quase sempre, para fazer graças, distrair ou mesmo pajear infantes e adultos. Representavam aquilo que todos ridicularizavam, marginalizavam ou rejeitavam em si mesmos. Mas que lembravam a todos o que não deviam ser: Idiotas. Seu papel social era bem mais que ser a piada para todos: representar o ridículo e a própria rejeição de ser.
Com a evolução e as revoluções sociais, avesso a isto, ao mostrar o negativo, preferiu-se evidenciar o positivo. Surge Augusto Comte dizendo que a sociedade deve ter modelos a seguir, a copiar e reproduzir suas bravuras. Surgem os heróis nacionais que a história positivista idealiza inumanamente. É o Napoleão com seu quase alado cavalo. É o nosso Tiradentes representado à moda de Jesus Cristo. Perante estas figuras históricas, as demais da sociedade parecem abobadas e sem atitude a não ser copiar e idealizar seus modos e atitudes.
Sendo os anões das cortes evidenciados por suas “bobeiras” ou os “ilustres” da história, todos não deixam de serem figuras exóticas – fora do centro, da realidade – e idealizadas pelo negativo ou positivo.
São fórmulas que a sociedade encontrou para a veneração e a expiação – figuras lendárias de uma comunidade.
Barbacena teve e tem suas figuras projetadas: enaltecidas ou apiedadas, ilustradas ou negadas. Serviram como modelos para que delas se apiedassem mostrando caridade do pesar ou mesmo choça.
São os seus loucos!
Aqueles com transtornos mentais, cujas famílias descendiam de algum “ilustre” e tinham posses, eram tratados em hospitais psiquiátricos ou sedados nas próprias casas – guardados em cômodos – sótãos ou porões – para ninguém ver.
Outros sem posses, mas não representando violências ou perigos, perambulavam pelas ruas com seus gritos típicos, suas conversas que denunciavam suas demências, e seus afazeres que lhes garantiam o mínimo de sobrevivência:
- Olhe a dobradinha! Era o brado do Botina. E havia também o Mané Capão que fazia as crianças correrem de medo na Rua do Campo.
- Olhe os passarinhos! Era o verso da Isabelinha para os alunos da EPCAR.
- Pipoca! Pipoca! Anunciava a Hercília nos corredores da faculdade.
Colheres batendo e sambando na chuva era o outro. Andando com passos saltitando e com roupas quase femininas e apertadas era o Margareth exibindo sua homossexualidade.
São exemplos de pessoas apontados como negativo e que serviam como expiação para uma sociedade excludente.
“Joga pedra na Geni. Ela é boa para apanhar. Ela é boa para cuspir.” Cantava o menestrel alertando que esta exclusão era típica em outras comunidades também.
Todos são “prisioneiros das ilusões da sua época, do seu país e da sua”* posição social.
*DOZER, M. Donald. América Latina: uma perspectiva histórica. Ed. Globo. 2ªed. 1964.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 10/09/2015.
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