Seja como for
Chorei atrás da porta vendo ele subir as escadas com ela. Não estavam de mãos dadas ou distribuindo sorrisos e galanteios. Estavam sendo discretos. O mais discreto que podiam, se é que isso era possível. Fiquei ali observando os dois e senti um misto de pena e raiva de mim. Há tempos eu já desconfiava, mas ver era algo diferente. Era tão estranho e dolorido, que eu queria mesmo era mentir pra mim mesma que aquilo não passava de um sonho. E foi o que decidi fazer.
Decidi me enganar, fingir que não tinha visto nada. Decidi viver uma ilusão e fingir que tudo estava bem, porque o contrário teria me feito morrer. E eu não quero morrer. Não queria acabar ali. Não queria que acabássemos. Simples e dolorosamente não queria que acabássemos. Não quero perder ele para ela; nem perder a mim mesma para ele para sempre. Mesmo que aquela decisão significasse me perder de qualquer jeito. Mas era diferente... era diferente porque continuava sendo com ele, tendo ele... "tendo", ri de mim mesma e quase chorei ao mesmo tempo. Eu que não tinha nem a mim. Eu que era carente de minha própria presença, que me entregava por inteiro a minha carência de não saber e não querer ser sozinha. Existia alguém no mundo mais carente que eu?
Talvez, pensei. Existem tantas coisas estranhas acontecendo mundo a fora e eu era só mais uma, porque não era especial ou superior. Ninguém era e ninguém é. Por mais que tente, ou queira, ou acredite ser. E eu era igual a todo mundo e todo mundo era igual, principalmente na dor. Me senti um pouco mais aliviada. Principalmente na fraqueza. Me perdoei.
Aquela noite quando ele chegou eu o abracei com força e apertado. Me senti meio tola, confesso. Mas quem nessa vida pudesse se vangloriar de nunca ter sido tolo por um momento se quer a vida que atirasse a primeira pedra! Eu estava farta de buscar explicações. Não queria precisar entender nada, só queria te-lo em meus braços por mais aquela noite e pelo resto dos dias da minha vida. Viver a minha tolice e aceitar aminha fraqueza, porque se afinal aquele era o amor que eu podia ter, eu queria te-lo até o final. Até que chegasse de fato o fim. E não seria pelas minhas mãos ou pela minha vontade. Essa era a única coisa certa de tantas coisas incertas que alimentava em minha vida.