A cidade e semáforo
Há cidades quase sem trânsito, circula-se sem semáforo; nenhum movimento nas ruas. Descansam cachorros na praça ou deitados nas calçadas; bichos pastam em terrenos descampados; jumentos, a passos lentos ou parados, são indiferentes ao que se chama “o meio da rua”. Vê-se pouca gente fora de casa. Contudo, é cidade com prefeito, vereadores, delegado, juiz e vigário. Mas, sem semáforo. Noutras maiores, nas ruas calçadas, circulam umas dezenas de veículos. É exatamente nessas em que exigem o sinal de trânsito como sinal de crescimento e orgulho dos seus habitantes. Mesmo nessas, muitas vezes durante o dia, o sinal vermelho acende e não surge carro para parar; volta o verde e não aparece automóvel para passar.
Lembro-me do candidato à prefeitura, cuja meta era instalar um semáforo "para o progresso da cidade"... Ora, havia a encruzilhada. Logo, justificava o edil necessidade de um sinaleiro no cruzamento das duas ruas. Eleito, cumpriu a promessa. O sinal, quando fechava, jamais causou estresse aos motoristas; sorridentes, nunca se mostravam vexados. Pelo contrário, gostavam quando eram barrados pelo sinal vermelho. Contradições urbanas...
Nas cidades crescidas, evitam-se sinais de trânsito como causadores de estresse; somos instruídos a não passar imprensados entre o amarelo e o vermelho; e tampouco ultrapassar o sinal, nem obstruir a avenida. E haja multas ou motoristas raivosos esmurrando a direção; enfrentam-se, pela janela do carro, propagandas de edifícios e condomínios; oferta d'água de coco, de mangas ou de feijão verde. Vez ou outra, cordas impedem a passagem, pedindo-se dinheiro à excursão de concluintes ou paciência à causa dos “sem terra”. É ponto também de esmolas. Demorar ali ocasiona violências, assaltos ou sequestros. Como, em Tivoli, preferia Horácio: “Bem melhor é a vida no campo”, onde tudo é verde, sem outros sinais...