M e s m i c e

Não dá mais pra disfarçar: essa arenga diária, permanente, diuturna, esse papo político, econômico, judiciário... está qualquer coisa de chato, intragável, repulsivo e indefecável. É um samba horrível de uma nota só. Parece cantiga de grilo ou conversa de bêbado, indo e voltando, ainda mais o bêbado cuspindo na nossa cara. É a institucionalizaçãoda mesmice.

Você está ouviondo música, tranquilo, relaxando numa boa, e de repente chega alguém falando em lava jato, pedaladas, impeachment, golpe, ajuste, CPMF, Cunha... E dólar alto, liminares, pauta bomba, reforma política, vetos e o escambal de mesmice. Friusta você, irrita, obriga a pessoa a entrar a pulso no charco do volume morto, a ficar tenso, deprimido, jururu.

Parece que não há outro assunto, que o tempo parou, que a única prioridade é dar atenção ao debate estéril político, a briga de sujo com mal-lavado. E não só os políticos protagonizam esse papo qualquer coisa de chato, mas também pululam adoidados, amostrados e saltitantes até ministros e juízes das cortes, palpitanfo, saracoteando, fazendo juízo de valor fora dos autos. Um absurdo.

Não riam, mas um amigo meu e a esposa, depois de algum tempo de dieta sexual, estavam, aleluía, no bem-bom, afinal quebraram o jejum, quando o telefone tocou, o amigo que tem vários filhos e filhas e a familia é grande, mesmo no auge da "brincaderinha de casal (roialties para Stênio Garcia)", no melhor da festa fez um breque e atendeu o telefone, era outro amigo, um cara que está que nem o Ubaldo, o paranóico, o personagem do saudoso Henfil, dizendo que a Suiça havia mandado o inquérito sobre as contas de Cunha para a justiça do Brasil. Isso mais de meia-noite. O amigo nada respondeu apenas desligou puto da vida o telefone. E não conseguiu mais clima para continuar o bem-bom, broxou.

Não dá mais para aguentar esse papo chato. É broxante. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 15/10/2015
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