Às Vezes Tudo o que a Gente Precisa é do Vento Bagunçando Os Cabelos

Um tempo atrás trabalhava em um lugar muito estressante,numa função que me deixava além de extremamente cansada,completamente assoberbada de muito trabalho. Foram tempos difíceis aqueles,onde trabalhava muito,ganhava pouco e não era valorizada dentro das minhas funções.

Um dia ao chegar o fim do mês somando as contas do período percebi que um dia antes de receber meu pagamento já estava com todo o meu salário comprometido,restando apenas R$ 50,00 para enfrentar um mês inteiro pela frente.

Me bateu um desespero e ao mesmo tempo uma sensação de impotência muito grande.. Meu trabalho era muito desgastante e no final do mês não poder comprar nenhum mimo para mim e ainda saber que o próximo mês seria de grandes privações. Então naquele final de expediente do dia do pagamento sai do trabalho e peguei um ônibus até o terminal rodoviário da cidade vizinha onde se localiza o Shopping center da minha região,cidades pequenas com poucas atrações turísticas.

Era uma segunda feira de inverno,chuvosa e fria como manda o figurino.

Decidi andar entre as lojas e olhar as vitrines,embora não seja do tipo consumista,haja vista que tenho muito mais livros do que sapatos,como toda mulher gosto de apreciar novidades. Esse "passeio" tinha por finalidade desanuviar as idéias e me fazer relaxar diante dos dias difíceis que me aguardavam. Fiquei por um longo período andando e pensando o que eu poderia comprar com R$ 50,00 que pudesse me fazer um pouco mais feliz naquela noite,meus pensamentos rapidamente foram censurados e tratei de ir embora,já passava das 20h e no outro dia minha rotina voltaria ao normal e acordaria demasiadamente cedo para mais um dia de trabalho exasperante. Sai do Shopping e ao me dirigir ao terminal rodoviário fui surpreendida com uma chuva forte acompanhada de um vento frio,vento esse que foi chegando cortando meu rosto como navalha e bagunçando meus cabelos. Em meio ao descumunal arrojo da natureza minhas lágrimas se misturaram as gotas de chuva e embora o terminal rodoviário fosse bastante próximo ao shopping era insuficientemente coberto o que me deixaria molhada e potencialmente gripada. Decidi voltar ao shopping e aguardar a tempestade de vento passar.

Ao voltar passei em frente a livraria e seduzida por alguns títulos em promoção entei e comprei um bom livro. Saindo da livraria entrei numa cafeteria e pedi um capuchino com chantilly e assim vi meus R$ 50,00 virarem R$ 22,00. Parece loucura,mas o fato é que esse pequeno ato de insanidade me causou uma grande alegria na alma..vi minhas forças resgatadas,vi minha auto estima recuperada. Embora um novo mês se anunciasse com a premissa de fortes turbulências me senti encorajada a viver o mesmo sem reclamar e me desdobrar para suprir minhas necessidades sem desanimar ou enfraquecer.

Foi de fato um mês difícil,vencido por minha força de vontade de ver as coisas acontecerem e ver meu destino se transformar..aquela chuvosa e fria noite de inverno me fez acordar para muitas coisas..ao final daquele mesmo mês pedi demissão e fui atrás de um novo trabalho que me fizesse mais feliz e que me valorizasse mais.

E hoje sou grata ao velho vento bagunçando meus cabelos por ter buscado novos horizontes.