Toda criança é poeta
Isso mesmo: toda criança é poeta.
O poeta consegue espremer sentimento de tudo o que é coisa.
Enxerga além. Por isso, é detalhista e acaba surpreso por qualquer coisa que qualquer mortal julga bobeira.
Criança é isso.
Filosofia também: ‘’A única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas.’’ – escreveu Jostein Gaarder em O Mundo De Sofia.
Daí que surgem as indagações.
Por isso, tornar tudo em um hábito é assassinar um poeta (ou um filósofo).
Todos nós já fomos filósofos. Todos nós já fomos poetas.
Ontem caminhei com meu primo de três anos de idade na rua.
Soltou um ‘’Ah!’’ de surpresa.
Achei esquisito. Não havia nada de diferente. Nem mesmo um cão. Nem mesmo uma sombra.
Ele viu uma árvore que se diferenciou das outras.
Abraçou-a.
Eu perguntei por quê.
‘
’É uma árvore bonita!’’ – ele disse.
‘’Grande coisa!’’ – diria um bancário cético qualquer.
Pois meu primo me lembrou de Drummond em a flor e a náusea:
‘’ (...) Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.’’