O CANTO DO GALO DA AVE MARIA
Eu quero crer que em todas as famílias, existe sempre um membro, idoso ou não, que gosta de contar "causos" ou estórias, às quais, afirma serem verdadeiras, divertindo-se com a atenção crédula dos mais jovens e a curiosidade dos demais.
Muitas vezes são narrações bastante interessantes, a ponto de merecerem ser transcritas em forma de uma crônica.
Minha mãe, de saudosa memória, tinha um irmão que destacava-se de todos os outros, por ser, segundo ela, "meio pirado das idéias"; desculpem a gíria, mas era exatamente assim que ela falava. Meu tio, era na verdade, um homem bastante inteligente; marceneiro de mão cheia, fabricava manualmente instrumentos de corda: Violões, cavaquinhos e até banjos e guitarras, verdadeiras obras artezanais de grande beleza e sonoridade os quais vendia para o sustento da família; e não era só isso pois também tocava tais instrumentos e cantava até muito bem, o velhote.
Um belo dia resolveu tornar-se agricultor; adquiriu um sítio, no município de Papucaia, interior do Rio de Janeiro, e lá se foi com mulher e quatro filhos. Tempos depois, quando de uma das suas visitas aos familiares, começou a contar uma estória meio estapafúrdia a respeito de um galo que se ouvia cantar junto de uma grande pedra que havia em sua propriedade, ao qual ninguém via, só se ouvia o canto forte e sonoro; isso acontecia todos os dias extamente às dezoito horas, à hora da Ave Maria e durava uma hora exata e depois, cessava.
A sua casa ficava no meio da propriedade e a casa mais próxima ficava há mais de quinhentos metros da sua; além disso ele não era dado à criação de galináceos e não possuia nenhum galo, ainda mais que cantasse da forma que o galo misterioso cantava. Depois de muitos meses contando sempre a mesma estória, quando vinha nos fazer uma visita, a curiosidade de outro membro da família, foi despertada; foi um de seus irmãos, homem muito religioso que resolveu por o caso do galo em pratos limpos, desvendando de uma vez por todas , o mistério do "Canto do galo da Ave Maria".
Viajou para a casa do seu irmão, e a hora marcada, relógio em punho, foi para junto da tal pedra e esperou pela dezoito horas ; e qual não foi a sua surpresa, quando alto e bom som, o misterios galo começou a cantar exatamente na hora do Ângelus e percebeu que o canto vinha do interior da terra, junto a base da grande pedra.
Movido por sua religiosidade e entendendo ser aquele fato inusitado, uma manifestação satânica, tomou a decisão de escavar o local em busca de uma explicação pelo menos, plausível, para o extranho fato; conseguiu com algum esforço, alguém, que por alguns trocados, quisesse fazer o serviço, haja vista a superstição que é muito grande no interior. A medida que a terra ia sendo removida, aos poucos, como em uma escavação arqueológica ou paleontológica, quando o buraco atingiu a profundidade de um metro, aproximadamente, a pá tocou em algo duro como uma pedra e foi removida, nada mais, nada menos, que a cabeça de um galo feita de cerâmica ainda conservando as cores originais, com aproximadamente quinze centímetros de altura, que pertencera à uma peça conhecida como "galo de barcelos" da antiga lenda portuguesa. Um verdadeiro achado arqueológico.
O caso continua sem explicação; a peça foi trazida para o Rio de Janeiro e eu não sei onde está nesse momento; eu mesmo a vi e toquei nela. O mais interessante é que depois daquele dia, ninguém mais ouviu o "Canto do galo da Ave Maria.
H. Siqueira . 1990.
Muitas vezes são narrações bastante interessantes, a ponto de merecerem ser transcritas em forma de uma crônica.
Minha mãe, de saudosa memória, tinha um irmão que destacava-se de todos os outros, por ser, segundo ela, "meio pirado das idéias"; desculpem a gíria, mas era exatamente assim que ela falava. Meu tio, era na verdade, um homem bastante inteligente; marceneiro de mão cheia, fabricava manualmente instrumentos de corda: Violões, cavaquinhos e até banjos e guitarras, verdadeiras obras artezanais de grande beleza e sonoridade os quais vendia para o sustento da família; e não era só isso pois também tocava tais instrumentos e cantava até muito bem, o velhote.
Um belo dia resolveu tornar-se agricultor; adquiriu um sítio, no município de Papucaia, interior do Rio de Janeiro, e lá se foi com mulher e quatro filhos. Tempos depois, quando de uma das suas visitas aos familiares, começou a contar uma estória meio estapafúrdia a respeito de um galo que se ouvia cantar junto de uma grande pedra que havia em sua propriedade, ao qual ninguém via, só se ouvia o canto forte e sonoro; isso acontecia todos os dias extamente às dezoito horas, à hora da Ave Maria e durava uma hora exata e depois, cessava.
A sua casa ficava no meio da propriedade e a casa mais próxima ficava há mais de quinhentos metros da sua; além disso ele não era dado à criação de galináceos e não possuia nenhum galo, ainda mais que cantasse da forma que o galo misterioso cantava. Depois de muitos meses contando sempre a mesma estória, quando vinha nos fazer uma visita, a curiosidade de outro membro da família, foi despertada; foi um de seus irmãos, homem muito religioso que resolveu por o caso do galo em pratos limpos, desvendando de uma vez por todas , o mistério do "Canto do galo da Ave Maria".
Viajou para a casa do seu irmão, e a hora marcada, relógio em punho, foi para junto da tal pedra e esperou pela dezoito horas ; e qual não foi a sua surpresa, quando alto e bom som, o misterios galo começou a cantar exatamente na hora do Ângelus e percebeu que o canto vinha do interior da terra, junto a base da grande pedra.
Movido por sua religiosidade e entendendo ser aquele fato inusitado, uma manifestação satânica, tomou a decisão de escavar o local em busca de uma explicação pelo menos, plausível, para o extranho fato; conseguiu com algum esforço, alguém, que por alguns trocados, quisesse fazer o serviço, haja vista a superstição que é muito grande no interior. A medida que a terra ia sendo removida, aos poucos, como em uma escavação arqueológica ou paleontológica, quando o buraco atingiu a profundidade de um metro, aproximadamente, a pá tocou em algo duro como uma pedra e foi removida, nada mais, nada menos, que a cabeça de um galo feita de cerâmica ainda conservando as cores originais, com aproximadamente quinze centímetros de altura, que pertencera à uma peça conhecida como "galo de barcelos" da antiga lenda portuguesa. Um verdadeiro achado arqueológico.
O caso continua sem explicação; a peça foi trazida para o Rio de Janeiro e eu não sei onde está nesse momento; eu mesmo a vi e toquei nela. O mais interessante é que depois daquele dia, ninguém mais ouviu o "Canto do galo da Ave Maria.
H. Siqueira . 1990.