Assim ou...nem tanto 15
Um outro tempo.
Dominavas. Sentia-te, submersa, na voz do regato da minha juventude, na ramaria das acácias, na delicada brisa que ondulava o capim e fazia tremer os malmequeres. Estavas sempre comigo e sempre te misturavas aos meus pensamentos, à minha sede. Muitos dias te senti a alisar-me o dorso, a correr frágeis dedos pelas minhas coxas, a beber na minha boca palavras doces, a exigir-me mais força e determinação para crescer logo e logo te arrancar ao marasmo dos dias. Do teu silêncio saiam todas as mensagens e no teu olhar parado no infinito eu sempre estive. No mais, o nosso amor nem existia, tu nunca me olhaste com interesse e tudo que havia em ti de maravilha, era a boca que mordias, o ofegar dos teus seios depois da corrida, o falso medo de cair e o embalo dos meus braços, logo inquietos, envergonhados de tão pouca distância. Proximidade inconsequente, toques que só ardiam na minha pele, palavras que recebia como carícias mas que tu gritavas na exaltação do jogo. E ganhavas. E perdias. E rias, rias, rias.
Quando voltaste já nem me conhecias. Curioso, disseste, sermos da mesma Escola, do mesmo ano, da mesma equipa e nada me lembrar de si. Naquela altura só tinha olhos para o professor de Educação Física. Quase casei com ele, sabia? – Não, respondi, não sabia.