Éramos 2014
Esse ano me reservou muitas surpresas. Uma delas foi observar melhor o meu mundo por dentro. Ter consciência de minha própria história me humanizou por demais. Tentarei, portanto, fazer uma breve retrospectiva “interno-temporal” como tema deste segundo texto da coluna diária. Afinal, o homem, o poeta e o historiador que vivem em mim são uma coisa só.
A nova proposta temática me levou à internet para pesquisar fatos de dois mil e quatorze em ordem cronológica, mas o que encontrei foram coisas mesquinhas. Em um link, o redator, ou sei lá o que, do site terra, deveria mostrar ao internauta as piores selfies do ano.
Por isso, optei em dividir os acontecimentos deste ano em três meses: Junho, Outubro e Novembro. Na minha humilde opinião, eles resumiram o impacto das transformações que ocorreram na sociedade brasileira e também atingindo depois o mundo. Eu me interesso por escrever sobre essas mudanças do plano interior, como diria um “junguiano”, do que viver pela ilusão do inconsciente coletivo.
Perdoe-me os psicólogos se reduzi a teoria junguiana, mas entendo que houve uma quebra nos arquétipos da alegria, da alteridade e do humor. Modelos importantes do bem viver em nossa sociedade. O que me levou a constatar o que Mário de Andrade disse há anos atrás: o brasileiro é um “mau” caráter.
Como homem, fiquei indignado por ver o governo “Macunaíma” roubando pela preguiça das obras na copa em nosso país. O país teve tanta verba jogada fora e o clima amistoso com o mundo aparecia apenas nas telinhas. A parte boa foi descobrirem o Brasil no mapa, mas a ruim foram como (des)cobriram.
A organização do mundial em terra tupiniquim expôs nossas mazelas em todas as áreas administrativas, o ódio à própria presidente e a velha questão dos “macaquitos” colocada pelo preconceito de nossos hermanos. Afinal, não me diga que você torceu pela Alemanha porque estava com a camisa parecida com a do flamengo?
No entanto, o que preocupou foi a (des)união entre as federações. Cada Estado brasileiro deixou sua linha imaginária de lado durante a copa para reacendê-la em outubro: época das eleições mais polêmicas de todos os tempos. Vimos, de um lado, um candidato angariando os centros mais ricos do país, enquanto a presidente uniu a classe considerada “abastarda” pela mídia brasileira conservadora e pobre de ideias. O fim dessa avalanche de acusações políticas resultou numa mini guerra civil ideológica, que permanece para qualquer brasileiro que queira discutir política atualmente. Fizeram até a blasfêmia de acusar o nordeste de alimentar o populismo, herança da era Vargas, e retrocessos em nosso país. Isso mostrou ao meu lado poeta que há uma crise ideológica em nossas terras.
Perdemos a criatividade inocente da criança. O olhar com humor singelo o nosso cotidiano. Em novembro, então, morre, no México, Roberto Gomes Bolaños. Aquele que, para alguns, era apenas o chapolin, ou o chaves. Este ator não foi apenas uma representação caricata da realidade da América Latina, mas um humorista que fez história influenciando desde o modo de artistas se apresentarem, como o modo de nós mesmos observarmos nosso cotidiano. A geração vindoura não irá entender como o aviso “já chegou o disco voador” se eternizou entre crianças e adultos de todos os lugares para os quais o seriado era televisionado. Sinto-me histórico ao perceber outro ser humano eternizar-se na história brasileira e, porque não, mundial, com tanta simplicidade.
Pra mim, este foi o último acontecimento marcante deste ano. Não só pelo fato de o meu cansaço atrapalhar o resgate cronológico dos meses que se foram, mas porque sinto ser fatos impactantes por mais simples que tenham sido. Nossa vida é como um filme. Cada cena, a gente constrói, atua, e vai juntando pedaços. Pelo menos, os mais importantes. Assim como a história, vivemos em meio a mudanças lentas de nossos sonhos, ideais em choque com nosso cotidiano prático e real. Por isso, deixo uma dica para seu 2015. Seja um país, governe você mesmo!
obs.: Texto antigo e embora sem a opção de formatação, posto aqui ele.