E LEVOU ALGUM TEMPO PARA EU PERCEBER QUE ME SINTO MELHOR SOZINHO
A ideia de passar um tempo desregrado fora das grandes metrópoles é, sobretudo, um benefício à alma há tempos vegetativa, em quase estado suicida, anacrônica.
Num dado dia qualquer foi decidido deixá-la porque se cansou do caos e do frio entorno do coração humano, mas ao retornar depois de muito-muito tempo de sumiço,
então, o olhar de criança à boa alma retorna, e tudo a minha volta ganha ar de novidade e especulação: as luzes dos carros, os lampadários da cidade, a boemia em overdose, o sexo em proliferação.
Painéis de neon viram arte. Outdoors às margens das vias públicas, nas empresas ou fachadas de edifícios, musas em fotografias libidinosas, poses sensuais jamais em vão.
Bulevares e cruzamentos em várias mãos, um bocado de mim em cada direção.
O desconhecido torna-se convite. A noite inteira pela frente, sem receio, fecho meus olhos, me corto sob o efeito de luzes psicodélicas: Dj Offer Nissin feat. Maya – Alone – o som uma balada.
O aroma gastronômico e invasivo dos restaurantes, cafés e bares, a comida de rua, a bisnaga porcamente melecada de ketchup, uma rápida refeição.
A agitação noturna, de fato, é contagiante.
Parece até que por instante instintivo, quase imperceptível e duradouro o bastante, passa a ideia de paraíso nesse concreto armado.