Crônica de aeroporto
Fomos avisados na chegada de que todos os passageiros vindos do exterior deveriam retirar as malas, incluindo os que fariam conexão para outras partes do Brasil. Já havíamos recebido informação a respeito no aeroporto de Paris, quando despachamos a nossa bagagem: iríamos até Porto Alegre, mas as malas deveriam ser retiradas no Rio e despachadas, em seguida, para nosso destino. O problema é que nosso voo estava previsto para as sete e dez, menos de duas horas após a chegada ao Rio.
As cinco e trinta da manhã, chegamos sãs e salvas, mas preocupadas, ao Brasil. Saímos do avião tão rápido quanto nos foi possível, pois ocupávamos o fundão do aparelho. E, para início de conversa, nos deparamos com uma imensa fila que reunia estrangeiros e brasileiros recém-chegados da Europa. Minha amiga não desanimou: saiu à procura e encontrou uma atendente abaixo de uma placa em que se lia: prioridades. E para lá nos dirigimos.
Corremos para despachar as malas. Quando descobrimos o local correto, encontramos uma fila quilométrica para fazer o check-in. Quase ao mesmo tempo, ouvimos pelo microfone que havia um guichê específico para os retardatários cujo destino era Porto Alegre ou Curitiba. Avançamos decididas naquela direção, o tempo passava e ainda estávamos longe do nosso avião. Depois de despachar a bagagem, um tanto quanto desorientada, pedi socorro a um funcionário: “Por favor, vamos perder nosso voo”. Surpreendentemente, ele disse: “Vou ajudar vocês. Venham comigo.” E abriu a corda já fechada, para que pudéssemos passar. Olhei para trás e vi o olhar desolado de uma jovem com quem tínhamos conversado. “Aquela moça está chegando da Espanha e vai perder o voo”, alertamos. Ela já se ia embora, diante da corda fechada. “Moça que chegou da Espanha rumo a Porto Alegre”, gritou ele. A gaúcha voltou-se, nos reconheceu e entrou conosco na área de embarque.
Numa sucessão de corridas e com o auxílio generoso de um funcionário do Galeão, conseguimos chegar à aeronave alguns minutos antes de ela decolar. Agora sim, cumpria-se a última etapa da nossa viagem. Para dizer a verdade, última etapa não: ao chegar a P. Alegre, ainda teríamos de ir para a Rodoviária, a fim de pegar um ônibus que, depois de três horas e meia, nos deixaria em Pelotas. E, assim, encerrava-se uma viagem que havia começado no anoitecer de segunda-feira, com a nossa ida para o aeroporto Charles de Gaulle, e consumava-se na tarde de terça-feira, com uma bem-sucedida chegada a Pelotas. Exaustas, mas inteiras.