D o i d i n h o

Sou um apaixonado pelo passado, mas só no que ele tinha de positivo, o romantismo, a boa música, o folclore, o valor da palavra empenhada, o sentimento da honra... Mas sempre condenei os preconceitos, os tabus, as injustiças, a discriminação e a ignorância, principalmente aquela que gerava crueldade e maldade.

Vou citar nesta maltraçada apenas uma que julgo absurda e repulsiva. Naquela época, até final dos anos 50 e começo dos sessenta, era comum os casamentos entre parentes e talvez por isso, penso eu,, desses relacionamentos nasciam, às vezes, crianças com problemas mentais, algo que hoje poderia ser tratado em clínicas especializadas e, quem sabe, até curado o problema. Mas as famílias preferiam esconder o "doidinho" (era assim que chamavam-no) da família. Desde pequenos eram alijados do conjunto da família, dos "sãos". Como o problema evoluía, quando ficavam adolescentes, a famaília construia um quartinho no muro da casa e colocava o "doidinho" lá, se ele ficasse enfurecido aí colocavam até correntes para o infeliz anão fugir e envergonhar a família. Não era por pura maldade, mas por vergonha, o que agravava a crueldade irracional. O danado é as mães desses doidinhos gostavam mais deles do que dos outros filhos, mas nada podiam fazer porque trancar os infelizes fazia parte da cultura da época. té a religião se calava.

O pior é que a garotada quando descobria o esconderijo do "doidinho" subia no telhado do quartinho e começava a acunhar o infeliz, ele se enfurecia, mas estava acorrentado. Era algo doloroso.

Era uma das maiores vergonhas da sociedade do passado. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 11/10/2015
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