Pontos de Vista

Julgar os outros nunca foi bom. Desde os tempos de Cristo era uma atitude muito pesada, e continua sendo. Pois eu creio que devemos nos julgar primeiro, para ver se somos melhores do que os nossos semelhantes.

Por exemplo, vou citar o ocorrido numa tarde, em Ribeirão Preto, quando eu esperava o R2 que vinha de Uberaba, no qual eu seria o maquinista para a viagem de Ribeirão Preto a Campinas. Nada me identificava como maquinista. O boné eu só usava quando adentrava a locomotiva. E conversava com um amigo de ribeirão Preto, quando chegou um senhor e disse:

“..Será que esta porcaria está no horário? Pois eu quero estar em Tambaú às 17h00, e ainda voltar hoje para Ribeirão. Eu não confio neste povo de locomotivas. São todos uns arruaceiros, bêbados e não respeitam ninguém”...

O meu amigo sabia que eu não ia responder aos insultos. O trem de Uberaba chegou, o homem foi se acomodar no vagão e eu fui assumir o meu posto até Campinas.

Passados alguns dias eu estava na plataforma da estação de Campinas, e minha locomotiva estava engatada no trem. Faltava apenas a chegada do trem que vinha de São Paulo, para acomodar os passageiros que seguiriam para vários lugares do interior, pelo trem da Cia Mogiana. O meu trem era o noturno, que teria poucas paradas. Nesse momento chegou ate mim um senhor e me disse:

“...Eu já fui até a locomotiva e o foguista me disse para falar com o senhor, pois eu vou descer em Sucuri, mas o trem não tem parada lá. Eu teria de contar com a sua boa vontade para descer lá. Eu sai do hospital hoje e gostaria de estar em casa o mais rápido possível”..

Eu reconheci, então, que aquele senhor era o mesmo senhor de Ribeirão Preto. E lhe disse:

“..Fique tranquilo. Mas quero que o senhor espere o trem parar..”

E assim eu fiz, sem prejuízo para o horário do trem. E mesmo que houvesse algum problema eu responderia sempre com a verdade.

Passado mais algum tempo, outra vez eu esperava a chegada do meu trem quando um casal veio até mim, e a esposa me disse:

“..Queremos agradecer ao senhor pela bondade da parada do trem, naquela madrugada em Sucuri. Além de perdoar o meu marido pelas bobagens que ele falou perto do senhor. Lá em campinas ele reconheceu o senhor. Mas tinha certeza que o senhor não negaria aquele favor. Deus lhe ilumine o caminho e também o de sua família...”

Então o senhor Paulo, era esse o seu nome, me abraçou, muito comovido e disse:

“..Eu estava muito nervoso naquele dia e não pensei naquilo que estava falando. E o senhor me mostrou como se paga o mal com o bem..”

E ainda acrescentou:

“..Eu não tenho a sua estrutura, mas o senhor ganhou um amigo agradecido..”

Laércio
Enviado por Laércio em 10/10/2015
Reeditado em 10/10/2015
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