Jabutis em árvores (parte 5)
Uma faculdade não vai transformar um aluno em um bom profissional, muito menos no melhor profissional do mercado. Não é a melhor nota em uma prova que define o melhor aluno. Mas com o investimento diário em assuntos diversos. É com informações múltiplas, que se constrói um conhecimento, um saber.
Alunos investem em um conhecimento extraclasse: conversando, lendo livros e folheando revistas. Pesquisando na internet e intranet. Por TVs abertas e fechadas, por teatros e cinemas. Viajando e conhecendo novos lugares, outras pessoas, vivenciando situações. E a instituição de ensino ao final do curso se apropria da formação, da criação de um profissional. Notifica ter gabaritado um profissional com os últimos conhecimentos e inovações do mercado.
O aluno transita entre a residência e a universidade, vê as ruas e o que acontece nas calçadas. O aluno leva o conhecimento para dentro da classe. Enquanto cientistas e professores vivem trancafiados em um laboratório, ou por traz de uma mesa, e com as costas voltadas para as janelas. Ambiente ótimo para que trabalha com nanotecnologias e nanoconhecimentos. Enxergam o mundo pelas janelas de seus computadores. Acreditam que a visão virtual seja uma visão real.
Toda imagem postada e divulgada na internet tem a motivação e inspiração de quem postou. E a interpretação fica aos olhos de quem a vê. A internet não transmite emoções, transmite imagens e textos que podem ser interpretados com a situação emocional de quem ler ou ver. Situações emocionais associadas ao volume de conhecimento.
Bourdieu olhou e observou, pesquisou e tabulou. Analisou e concluiu que após cinco anos de formado, não importa mais a instituição que emitiu um diploma. O ex-aluno se constrói e reconstrói, nas ruas e nos mercados de trabalho. Não importa ser a melhor ou a pior instituição que cursou. O profissional certificado ou diplomado será um conjunto de conhecimentos adquiridos, e não exclusivos da atribuição de uma instituição.
O conhecimento é um patrimônio próprio, do indivíduo. Um capital que outro não pode se apropriar. Cada qual leva suas armas e bagagens por onde for. Noé colocou na arca o seu conhecimento, os animais que conhecia e sabia criar. Fez na arca um download de seus arquivos. Quando as águas do dilúvio baixaram, pode continuar suas criações. Soltou uma pomba que voltou com uma informação: a relva já renascia.
A universidade é estática, uma montanha para onde Maomé se encaminha diariamente, para responder uma chamada e cumprir um calendário de provas. Ao final do curso as faculdades se posicionam estrategicamente. Intitulam-se com o dever cumprido de colocar conhecimento em uma cabeça vazia. O entendimento de
aluno ser um ser sem luz (a-lunes). Visão que ficou perdida no tempo, na escuridão da falta de conhecimento.
O professor se coloca em um lugar estratégico da sala. Pode ver todos os alunos à sua frente. Tem a lousa a seu alcance e o controle do aparelho multimídia em suas mãos. O controle da chamada de presença e das notas. Lugar de destaque para que todos os alunos possam olhar e admirar. Controlar e avaliar a turma. Tem circulação livre pela sala entre os assentos dispostos em filas e colunas tal como um pelotão a seu comando.
O conhecimento e a informação circulam pelas ruas e avenidas, fora do ambiente universitário. Está em livros e revistas, em bibliotecas e hemerotecas. Ao alcance dos dedos e nas palmas das mãos. O professor tem o dever e a missão de abrir janelas de conhecimento, sem fechar portas. Não impedir pensamentos transversais, por ideias interdisciplinares. Abolindo o discurso que determinado tema não faz parte da disciplina. Disciplina é para soldados indisciplinados.
Santos e imagens. Uma instituição de ensino é um santo que emite uma imagem representada por um certificado ou diploma. Um pedaço de papal afirmando algo a respeito de um súdito que frequentou suas instalações. Um certificado ou um diploma produz uma área de conforto. A comodidade adorada da não necessidade de avaliação de um currículo de vida (Curriculum Vitae), ou uma bibliografia produzida.
Existem os que se apropriam do comportamento da lebre ou do jabuti. Escolas e professores parecem ter se apropriado dos comportamentos da lebre justificado pela velocidade dos acontecimentos e da tecnologia. Apropriaram-se do comportamento, apropriando-se do tempo. Determinam o tempo dos alunos. Quanto tempo tem para estudar, quanto tempo tem para ler e pesquisar; e quanto tempo tem para responder o que foi demonstrado.
N /RN ─ 09/08/2014
Texto produzido para: O Jornal de HOJE – Natal/RN
Palavras Chaves: gestão; qualidade; conhecimento
Palabras Clave: gestión; la calidad; el conocimiento
Key Words: management; quality; knowledge