Dilema da Greve

Fui bancário durante mais de 30 anos. Era delegado sindical e não era optante pelo FGTS, ou seja, tinha estabilidade, o banco não podia bulir comigo. Por isso mesmo era quem organizava as greves, tomava a frente. Participei de muitas delas. Mas só fazia a greve se houvesse consenso da maioria quase absoluta dos colegas, tanto da agência que trabalhava quanto das dos outros bancos.

Para os caras do sindicato, na capital, era tudo mais fácil, além da imunidade eles não tinham os dias parados descontados, não viviam os problemas de quem está na ativa, dos que não possuiam imunidade nenhuma. Por isso nas greves que tomei parte me guiava por um lema, um por todos e todos por um.

Numa dssas greves, ainda na ditadura militar, comnseguimos fechar as cinco agências da cidade, passamos até correntes nas portas, em algumas eu deixava entrar apenas o gerente para ler telex e receber telefonemas, achava correto. No terceiro dia dessa greve um gerente, meu amigo, um cara que simpatizava também com a greve, embora exerce o cargo de gerente, me mostrou um telex da matriz doseu banco mandando fazer uma lista de cinco dos 34 funcionários para demitir, caso a greve prosseguisse. O problema deixou só de ser do gerente, era meu também, conhecia todos os funcionários, a maioria casados e pais de família sem imunidade nenhuma, enquanto eu tinha imunidade. Fiquei num dilema da gota serena. Com uma bomba nas mãos. Pensei, comovou amanhã olha para esses caras se eles forem demitidos. Sabia que era pressão do banco, chantagem, safadeza, mas era algo real. Havia chegado do Recife dois dirigentes do sindidcato, dois caras engomadinhos e metidos a lídres, dando ordens, mandando endurecer, botar carro de som, fazer auê, coisaque sempre fui contrário enão atendemos. Fui a ales e disse que ia abrir a agência que cinco funcionários haviam sido ameaçados de demissão. Eles rodaram a baiana, disseram que eu iria quebrar o movimento, abrir precedente, ceder ao patronato. Fui grosso, grosso demais, porque mandei os dois à merda, disse que para eles era fácil não podiam ser demitidos, não teriam dias cortados, que não entendiam os problemas da cidade e que a nossa greve não obdecia às ordens do sindicato, que voltassem para a capital. Os carinhas procuraram chão e nao encontraram, todos os que estavam comigo me apoiaram. Abri a agência. Dias depois a greve terminou. Se foi chantagem eu nao sei, mas dormi tranquilo. Nunca me guei por ordens do sindicato, mas por minha consciência.

Sempre tive orgulho de ser bancario, era um a classe forte. Disse era porque hoje nao e mais. Com a automação, caixas eletrônicos, lotéricas, as greves estão mais fracas, atéos gerentes sozinhos nas agências conseguem fazer negócios via computador. Mas continuo apoiando as greves. É um direito, mas devem ser feitas com bom senso, sem radicalismo e sempre que possível ouvindo a voz do coração. Em tudo precisamos ter bom sendo. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 10/10/2015
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