Pequenas corrupções
As corrupções de grande porte carregam consigo grande bagagem de afetados: milhares de pessoas deixam de ter o auxílio que necessitam justamente por causa delas. Na maioria das vezes, essas corrupções parrudas estão sempre acompanhadas do poder, ou seja: nascem em palacetes, prefeituras, senados e grandes empresas.
Mas a grande crise moral brasileira não abrange apenas berços de ouro, mas também casebres, e todo o miolo entre os dois. Existem, assim, as pequenas corrupções, contagiosas, que às vezes se travestem de legítima defesa. Não assustam, justamente, por serem diminutas, mas são tão prejudiciais quanto as maiores: Pedras menores também podem arrolhar o rio.
Existe uma centelha de hipocrisia nisso tudo. Se nós, comerciantes, faxineiros, padeiros – meros mortais sem enormes verbas para desviar – somos corruptos em nossa pequena escala, em nossa pequena realidade, como podemos cobrar honestidade de nossos representantes?
Devemos perceber que facilita se começarmos a purificação de baixo para cima – sem eufemismos! – e se deve levar a sério todos os pequenos pisões fora da linha: pirataria, furar fila, estacionar na vaga do idoso – são todos crimes, impedindo que o rio corra...
Há de se ver, um dia, a grandeza das minúsculas ruindades; e reparar como facilmente se transformam em monstros colossais. E que consigamos deixar o mundo melhor do que quando o encontramos: mais justo, mais puro, mais bonito, mais feliz, menos desigual.
Que a única coisa em comum entre palacetes e barracões seja o mesmo sonho: por um Brasil melhor. Assim, um dia, talvez, não haverá nenhum desses dois extremos, e o rio segue tão livre quanto nós, sem dono e sem pedras em seu caminho.