Sobre uma amizade

[Em] um dia conversávamos à beira da lagoa, com nossas dores, trapos e risos poucos. Ríamos dos outros e de nós. Chorávamos pelos outros e chorávamos por nós. Muitas das vezes sentávamos em silêncio a observar o céu, ou a água, apenas a ouvir o que não tínhamos a dizer uma à outra. Mas, a companhia nos parecia [e nos era] suficiente. As palavras, muitas vezes já gastadas, não nos faziam falta.

Sentávamos outro dia no meu quarto. Nos olhávamos talvez pensando “o que dizer?”, “digo algo ou nada?”, o que quer fosse que pensávamos, muitas vezes não dizíamos. Apenas nos olhávamos, ou olhávamos deitadas na cama a rotação do ventilador empoeirado. Às vezes tentávamos entender a vida, outras já nem queríamos entender – entender certas coisas talvez fosse um indício de crescimento, de maturidade, e talvez não tivéssemos tanta vontade dessas coisas. Crescer parecia nos assustar. A ideia de mudanças de vida e de sonhos nos amedrontava. Sonhos eu sei que tínhamos muitos. Tivemos uma lista –ou mais – de sonhos e objetivos a serem alcançados – acho que toda adolescente já experimentou colocar os seus sonhos no papel, e acredite, é uma tarefa muito difícil!, os sonhos parecem fugir. Nem sabíamos ainda qual era o nosso maior sonho... Até descobrirmos que os sonhos são difíceis, realizá-los é uma tarefa difícil, e muitas vezes, eles acabam virando ilusão e fantasia, acabam se perdendo, virando passado, um trapo pesado que não sabemos onde enfiar. Sonhávamos... Sonhávamos.

Com o tempo, com a maioridade, com a maturidade, as coisas foram mudando, se transformando. Já não sonhávamos mais – não sonhávamos juntas, não saíamos juntas, e quando o fazíamos, o silêncio é que falava – parecíamos olhos estranhos, pessoas estranhas. Não parecíamos mais.

A vida tomou um rumo que não tínhamos na lista, menos ainda pensávamos quando tudo aquilo escrevemos. Apenas esquecemos. Nos esquecemos. Tantas coisas ficaram para trás. E agora, bom... Não nos falamos. Nem o silêncio mais nos fala. Nem nos vemos mais. Nem somos mais amigas. Talvez até sejamos... Pode ser que apenas nos esquecemos disso, tal como nos esquecemos dos nossos sonhos.

Larissa Maciel
Enviado por Larissa Maciel em 09/10/2015
Reeditado em 31/08/2017
Código do texto: T5409628
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