onde convidamos a vida
O poema do fim do dia. O poema do fim do dia, é o poema do fim do dia. O fim do dia, sem o poema do fim do dia, é uma espécie de fim do dia sem poesia. Todos os poemas do fim do dia têm poesia? Não necessariamente. Porque os poemas do fim do dia, mais não são que a procura da felicidade em versos e a descoberta que nem sempre estamos felizes. O que não é forçosamente uma infelicidade, mas não é o contrário.
Hoje estarei triste, contente, ou, assim assim? Ainda não decidi e só o poema me poderá decidir e, o mais certo, é o poema não decidir nada. Como é que eu posso saber? Primeiro, antes de tudo, tenho de escrever o poema. Algo estranho, este “antes de tudo”.
Gosto infinitamente desta procura do poema, precisa de tempo e pode não nos dar tempo. Quando isso acontece, somos obrigados a descobrir que o drama é a fala ser muda e não ter mímica: ficando sem respirar, a sentir que a vida, sem ar, é irrespirável!
Felizmente podemos decidir desistir, sem fazer a triste figura dos versos...
a triste figura dos versos
mergulhando nas órbitas
vazias dos olhos vazados
na caveira onde nascemos
para uma ideia que nos faz
sentir abandonados sem ter
inspiração que nos permita
aspirar poder ainda expirar
na triste figura dos versos
procurando viver o crânio
como uma toca com vida
onde convidamos a vida
{Chamei "crónicas poéticas" a breves leituras de poemas, esta foi mais a escrita à procura do poema.}