MEU CHOPP E EU
Eu (e minha solidão), no shopping, na companhia de uma caneca especialmente acinzentada. Passo a vista no ambiente e me detenho num telão com propagandas de marcas.
O ruído sugere uma multidão, mas há muitas mesas vazias. E algumas das ocupadas, contam com uma só pessoa, assim como a minha. E por um momento eu desejo outra presença, na cadeira à minha frente. Uma companhia com quem eu pudesse conversar, ao invés de estar escrevendo.
Começam os testes do som (hoje é quinta-feira, dia de música ao vivo, mas não foi por isso que vim). Olho o celular e vejo que é quase hora de ir.
A moça do lado fala pelos cotovelos. O rapaz que a acompanha parece mudo, quase não abre a boca, se expressa com monossílabos para dar sinal de vida. Ela não é cearense, percebo.
Atrás de mim, uma adolescente ri do nada e suponho que está de namorico com o rapaz que finge estar achando graça no que ela diz.
Numa mesa um pouco mais à frente há um jovem, sozinho. Parece estar esperando alguém.
O cara da música repete algumas vezes “oi, som!”... suponho que a música está prestes a começar. Também já se ouve o violão. E, minutinhos depois:
“Às vezes, no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois. E fico ali, sonhando acordado, juntando o antes, o agora e o depois...”
Numa reação de quem sentiu tocar profundo a música, viro a caneca e sinto deslizar o Chopp lavando minha alma. Ah, essas músicas! Elas me dão um negócio aqui dentro! É hora de dar tchau, penso, se não vou começar a remoer coisas.
- Garçom, a conta, por favor!