O conselho de Graciliano

Acho quie o o cara que escreveu com mais esmero no Brasil, aí incluídos todos os nossos grandes escritores, foi Graciliano Ramos. Disparado. Ele lapidava como um ourives os seus textos. Era perfeito. E não escrevia difícil, seus livro~s podem ser lidos por qualquer leitor mediano. Mas para conseguir isso ele trabalhava os textos à exaustão.

De vez em quando releio o aconselho que ele deu a quem se mete a escrever e rio paca. Sim, porque o que ele aconselhou, pelo menos para mim que sou apenas um mero caçador de ticacas é missão impossível. Mas vou transcrever o conselho dele:

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras de Alagoas fazem o seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, olham a roupa suja na beira do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de ter feito tudo isso elas dependuram a roupa no varal para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer".

Pobre de mim, desleixado, preguiiçoso,meio mobral, respeito e admiro "O Velho Graça", mas prefiro apenas colocar a roupa suja na máquina de lavar. E priu.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 06/10/2015
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