'' Somos os mesmos apenas em épocas diferentes''
Eu estava em frente à minha prateleira favorita de todo o mercado – a de chocolates – decidindo qual seria o escolhido. De relance, pude ouvir a conversa de duas senhorinhas roliças de bochechas rosadas.
Uma delas, afobada, declarou:
– Tenho uma notícia abençoada!
Logo brotaram na minha mente milhões de netinhos alados; ou talvez, uma orquídea lilás que despontara no quintal.
Mas ela então revelou, me deixando boquiaberta:
– Comprei um fogão novo!
Como assim, minha senhora? E seus netinhos alados de olhos azuis? E sua orquídea? E a melhora do reumatismo do seu marido? Fogão novo?!
A sua amiga pareceu querer pular de alegria; não poderia por causa das panturrilhas roliças.
Nisso, perguntou quantas bocas do dito-cujo e mais outras coisas que só donas de casa sexagenárias poderiam entender.
Conversa vai, conversa vem...
A outra velhinha, então, compartilhou a notícia do novo namoro com um rapazote de vinte e cinco anos.
A primeira, de sorriso de dentadura, declarou que começara a ter aulas na academia; pretendia afinar a panturrilha e a cintura, disse, apertando os dois. Pelo menos ela sabe.
Aliás, confessou baixinho que seu instrutor é um gato.
Achei tudo muito engraçado... Decidi sair de perto antes que ouvisse algo chocante.
Escolhi meu chocolate e o joguei dentro do carrinho. Despedi-me delas mentalmente.
Daí, na fila do caixa, encontrei uma amiga de alguns anos atrás. Havia estudado comigo. Cumprimentamos-nos e perguntei-lhe como estava.
Ela logo fez uma careta e disse: Ah, mais ou menos...
Contou que estava toda dolorida por causa da academia. Uma audácia, ela disse, por que até uma velhinha gorducha frequenta o mesmo lugar e nem parece sofrer tal tipo de coisa. E pior: a velhota ainda dá em cima do instrutor.
Que, como ela definiu, é um gato.