Sobre a geração nova que definha...

Em sete de junho de dois mil e seis eu escrevi:

‘’Meu Querido Diário,

Hoje a gente vai à casa da minha avó, é legal lá, a gente se 'deverte' muito! Lá tem: Cachorro, comida e lazer. A gente pega pombinha. A vó é legal, além disso, tem espaço, rosas, macarrão, carne (hum!) deliciosa e churrasco. Tchau. ’’

Eu tinha oito anos e uma alma simplista – confesso que hoje em dia já não é mais tanto assim...

Gosto do jeito em que as crianças descrevem o que é importante pra elas. Gosto também do fato de que eu nem precisava escrever. Ninguém me pediu. Escrevi porque tive vontade.

‘’Espaço, rosas. Lá tem cachorro, comida e lazer. A gente pega pombinha. ’’

Tente imaginar o que uma criança atual (da geração conectada, diga-se de passagem) escreveria no seu Querido Diário. Já seria sorte se ele fosse um caderninho, não o bloco de notas de seu Iphone.

O que seria importante pra ela? O espaço, as rosas? Provavelmente não.

Antigamente, e nem tão antigamente assim, todas as crianças tinham cicatrizes nos cotovelos ou nos joelhos. Talvez porque caíram andando de bicicleta, talvez porque tropeçaram enquanto jogavam bola. E todas elas valiam a pena a dor, a bronca da mãe, o choro... Em todas elas haviam histórias pra contar.

Hoje em dia não há cicatrizes como ontem, e nem crianças como ontem.

Não culpo os computadores, videogames e celulares; não culpo os pais.

Talvez seja coisa futurista, prática: crianças de verdade fazem muita bagunça; sujam o chão da cozinha de barro, atormentam os vizinhos, brigam, se perdem...Seria uma tática pão-e-circo para os pequenos?

E se isso for o futuro, espero que meus filhos sejam saudosistas. Vou valorizar todos os vizinhos irritados e todas as pegadas de barro no ladrilho da cozinha. Vai valer a pena.