Mister Homem Ideal

Meu homem ideal não existe.

Caramba... como é difícil admitir. Pior foi o processo que me levou a descobrir o que deveria ser tão óbvio. O ideal que atribuímos aos outros só existe e só funciona na nossa cabecinha individualista. Relacionamentos fracassados quase sempre terminados por mim me fizeram repensar a postura que adotava ao embarcar em cada nova história. O sentimento de ter finalmente encontrado a perfeição na sua versão Homo Sapiens invadia o meu corpo por todos os poros, tão logo, vinha a decepção, o homem real, com seus defeitos, até toleráveis, mas não para a jurada mais carrasca do "Mister Homem Ideal", uma versão masculina, criada por mim, do "Miss Universo". Assistia ao concurso feminino com uma pontinha de inveja, a certeza de que nunca teria um daqueles corpos - com grana, até poderia - e o meu irmão ligeiramente excitado - os olhos vidrados na TV denunciavam isso.

Reclamo da superficialidade, de um mundo cada vez mais voltado para o visual, mas ainda me pego acompanhando as misses em maiôs e trajes de gala, numa jornada em busca de um mundo melhor. Ao menos é o que dizem na hora entrevista, todas querem a paz mundial, a cura da AIDS e o fim da pobreza, torço para que um dia, não sei bem como, uma delas consiga. Num dos intervalos, perguntei ao meu irmão, qual seria a sua mulher ideal.

_ Venezuela! - disse ele, sem pestanejar.

_ Não... não me refiro a mulheres que nunca terá na vida, falo de mulheres possíveis, uma específica, a que um dia será sua esposa, mãe dos seus filhos, caso pense em tê-los.

_ Já que não dá pra ser uma delas, seria ser uma mistura de todas, teria o rosto da Venezuelana, o corpo da brasileira, cabelos da mexicana, a classe da japonesa, o jeito sexy da colombiana, o andar da australiana...

_ E certamente não te daria a menor bola.

_ Não duvide do poder de sedução do seu irmãozinho... e pra você, como seria o cara perfeito?

_ Ah... seria mais alto que eu, não admito homem baixinho, moreno, de preferência, sem barba, voz grave, viril, inteligente, decidido, cavalheiro, independente, bem humorado, sensível, mas não meloso, bom de cama, que ouça rock, goste de cinema, de cachorro e seja fiel...

_ E certamente esse cara ainda não nasceu, talvez um dia seja criado em laboratório, não agora, daqui a uns cento e cinquenta anos. Pena que não terá tempo de conhecê-lo.

Pela primeira vez na vida fiquei sem resposta e pela segunda primeira vez na vida, ele tinha razão, exigência demais na juventude, pode significar desespero mais adiante. Não é necessário deixar de ser seletiva, mas sem um controle de qualidade tão rigoroso. Pequenas avarias, todos temos. Terminam os comerciais, o momento do resultado se aproxima, passei a torcer pela "Miss Venezuela", parece que dessa vez, o pirralho sabe o que diz.