“Viver não é necessário”
Nós, os humanos, procuramos a dor onde ela não existe. É como se cavoucássemos o mar tentando tirar dele um pouco de mel. No fundo, no fundo, somos masoquistas por vocação. O sofrer faz parte do nosso repertório ainda que neguemos a nós mesmos todos os dias. Essa esquizofrenia vem dos nossos pais e avós. Desde cedo nos ensinam que tudo é proibido, que tudo é perigoso, que tudo é nada.
Quando jovem escalava infinitos muros. Ao chegar ao cume e olhar para o outro lado, via que tudo não passava de uma ilusão. Pois os dois lados são absolutamente iguais e cansativos. Infelizmente ficava ali por mais tempo que o verdadeiramente necessário. Permanecia no alto até descobrir que é melhor ficar no chão onde o “perigo” é sempre menor.
Todas essas divagações me levam a pensar sobre cada um de nós. Também me fazem refletir sobre Fernando Pessoa quando leio seus versos dizem: “viver não é necessário; o que é necessário é criar”. Relendo este posicionamento e esquecendo todo o contexto em que ele está inserido fico me perguntando: se viver não é necessário, o que é necessário? Em contrapartida os compositores dos Titãs “profetizaram”: “devia ter complicado menos/trabalhado menos/ter visto o sol se por”. Mas o necessário não é criar? Ah, pensando bem... quem sou eu para questionar estes geniais Poetas?!
Um dia me disseram que se eu quisesse ser um imortal, teria que plantar uma árvore, escrever um livro, ter um filho. Não sei o que é mais complicado: 1) Plantar um acaju-catinga requer espaço, semente selecionada, conhecimento técnico, disponibilidade de tempo e aptidão para o plantio. 2) Ter um filho não demanda nenhuma habilidade especial, mas não deixa de ser um ato de coragem na atual conjuntura, além de uma responsabilidade quase titânica. 3) Escrever um livro me parece o mais fácil embora não tão simples como dizem. Por tudo isso eu creio que não serei um eterno.
Já estou começando a acreditar que minha alma é pequena. Como vê, não sou nada criativo. As árvores que plantei são de plástico, o livro que escrevi não será publicado, os filhos que tive criaram asas. Parece que viver e morrer tem o mesmo significado. Realmente... “viver não é necessário”.