A HORA DA CAÇA
Há um momento em que todos falhamos, a hora da queda, momento inevitável, apesar de todas as providências, das precauções, dos sonhos, diz a voz do Destino. Musa tão bela quanto cruel, imparcial, não vê nossos rostos chorando? Os filhos no colo? Os amantes, os rostos antes do assalto, do acidente, as crianças prematuras. Simplesmente acontece, a barra dos vestidos se agita, tocam-se as castanholas, cloc, cloc, pois a vida é um tango em que a gente dança, peça em que se faz papel de bobo, com festa, bolo, brigadeiro e direito até a cartaz, caramba... O cara quebrou a cara e ainda acham que é um bom ator, aplausos, aí a pergunta inevitável, quem é que nunca foi um personagem, alguns convencem aos tolos, aos sábios, mas não para si mesmos, cara, acho que falei demais, não? Não esquenta. Destino, um dia a gente aprende, a Tristeza não bate ponto, nem de cartão, nem de fervura, é ponto zero e ponta firme, quando vem, chega mesmo. É virtuosa, pontual e não decepciona! Quem faz isso somos nós, homens e mulheres.
Somos embriões. Do futuro. Do porvir, do porventura, por acaso alguém não concorda? Não? Ótimo, jogue pois as cartas na mesa e vamos ver quem é melhor, azar por azar, a gente chega num consenso e perde junto. Talvez seja a nossa hora. Cara, você tá amargo hoje. Cala a boca! EPA, você tá querendo que seja seu dia de azar, né? Perdeu a noção do perigo? Assim, lembramos que há coisas piores, a tristeza leva por estradas tortuosas, guia de cego com ótima visão e péssimos intentos, a gente procura uma flor e mete sem dó a mão no espinho. A vida é a rosa mais sedosa, mas é a que mais machuca, a dama mais bela só libera seu perfume à noite, na hora da escuridão, acupuntura, na qual se deita para curar a coluna sobre uma cama de pregos mortais. O viver é beijo de vampira, lábios de doce veneno e dentes famintos. Vou dançar com você, Musa, você zoou comigo, vou dar o troco. Vou superar você com um sorriso no rosto e a Esperança ao meu lado.